Sobre o câncer infantil.

Querida Migs expatriada,

primeiro corre lá e pega um lencinho. Eu também vou pegar um. Já faz um tempo que tento escrever esse post, mas não consigo terminar porque não paro de chorar. Volta e senta que lá vem história …

A maior virtude que minha mãe me ensinou é que temos que ajudar sempre. Cresci vendo minha mãe, meus avós e toda minha família ajudando. Isso fazia tão parte de mim que o meu sonho era ser Assistente Social. Fiz até teste vocacional e deu isso no resultado. Migs, mas vamos combinar que não é novidade para ninguém que eu quero ser rhycah (desde sempre) para viajar o mundo e ajudar muito. Infelizmente com o salário de assistente social no Brasil não iria rolar.

Enfim, resolvi seguir outra carreira. Porém o sonho de ajudar nunca saiu de mim. Trabalhei como voluntária desde novinha. Já trabalhei na escolinha de apoio da igreja, comecei com 15 anos duas vezes por semana durante a tarde. Também em orfanato, eu ía ler para as crianças. Um dia não consegui ir e pedi para minha mãe ir no meu lugar, ela não sabia o que fazer porque as crianças brigavam e se batiam  (fodástico). Até que  finalmente com crianças com câncer. Sempre com crianças.

Eu sou católica, mas gosto de tomar passe em centro espírita (pois é!). Um dia, no passe, um amigo falou de uma casa de apoio para crianças com câncer (por sinal, ele já faleceu e serei eternamente grata por ter me apresentado esse lugar especial). Crianças de diversos estados vinham para São Paulo para fazer o tratamento, e ficavam hospedadas nessa casa de apoio.

Lá fui eu conhecer essa casa de apoio, quando eu tinha 22 anos, e foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido na minha vida.

Casa Assistencial Maria Helena Paulina.

Migs, primeiro anota tudo aí. Tira print.

Meu amor pela Casa Maria Helena

Migs, eu ía na casa todos domingos, faça chuva ou sol. Era um projeto pessoal. Eu não sou aquela chata que enchia o saco da galera para ajudar ou visitar a casa comigo, porque a realidade é que muitas pessoas não conseguem ver e não sabem lidar com isso. Tudo bem, também. Eu, por exemplo, sempre trabalhei como voluntária com crianças mas não consigo trabalhar com idosos porque choro sem parar. Cada um sabe onde o sapato aperta.

Frequentei a casa muitos anos, casei, tive filha, mudei de país … aliás países, outra filha e infelizmente hoje não posso ajudar pessoalmente somente financeiramente.

Tenho lembranças lindas daquela época.

Infelizmente quase todas as crianças daquela época faleceram. Uma tristeza sem fim.

Eu tinha várias paixões.

Fernandito

Ele era do Paraguai. Tinha leucemia.

Minha mãe ía comigo na casa para conversar com a mãe dele, em espanhol. Ela engravidou para que o filho fosse compatível com o Fernandito.

Ele ía fazer 6 aninhos. Amava o Mickey. Uma amiga querida, Thays Maluf (aliás, Miga, meu muito, muito e muito obrigada sempre por todas as doações para a casa) comprou uma festinha toda do Mickey para ele. TODA! Até o canudo tinha as orelhinhas. Coisa mais fofa.

Combinamos de fazer a festinha no domingo, quando ele saísse do hospital e seria o dia do aniversário dele.

Ele faleceu na sexta-feira.

Não deu tempo dele ter uma simples festa de aniversário. Não deu tempo do irmão nascer para ajudá-lo. Não deu tempo dele ter uma infância como qualquer outra criança.

Minha mãe ficou de cama, Migs. Ela chorou sem parar uma semana.

Natália, minha xará.

A Nati morava na casa com a avó. Ia e vinha do Maranhão.

Ela tinha leucemia desde os 3 anos.

Uma fofa. Super querida. Muito vaidosa. Linda.

Já foi na minha casa. Já passeamos juntas.

Não posso negar, era minha criança predileta na casa e faleceu com 12 anos.

Eu não consigo escrever mais sobre ela porque não paro de chorar.

Muitas e muitas crianças

Muitas crianças já passaram pela casa.

Quando conheci a Paulinha, ela já estava no estágio avançado do câncer e usava cadeira de rodas. Ela tinha câncer de pele. Já não tinha grande parte do nariz e a pele era toda manchada.

Já vi câncer osseo em uma menina linda que não podia andar porque as pernas eram tortas.

Já vi tumor na cabeça tão grande que a criança perdeu a visão, movimentos e por aí vai.

Já vi tumor no queixo.

Já vi diferentes tipos de câncer, mas o mais importante é que eu vi muito amor. Muito amor mesmo.

Amor incondicional

Migs, na maioria dos casos, a mãe deixa outros filhos na cidade natal e vai com esse único filho fazer tratamento em São Paulo por meses, anos e até sei lá quando.

Dorme sentada por dias na cadeira ao lado da maca. Vai e volta de ônibus para os hospitais, como AC Camargo e Clínicas.

Tem amor maior do que esse?

Agradecimento

Migs, todo Natal eu arrecadava dinheiro ou presentes para a Ceia. Imagina a tristeza de passar longe da sua família, com a criança em tratamento e muitas vezes sem dinheiro para comprar nada.

Muito obrigada a todas minhas amigas, amigos e amigos dos amigos que ajudaram.

Meu marido trabalhava na Ambev, na época, e conseguiu um portão novo para a casa.

Minha madrinha, Luiza, mandava presentes. Vivi, Pata e a Maluf sempre mandavam doações. Cleir já doou muitos presentes no Natal. E muitos outros amigos ajudavam financeiramente.

Como ajudar

Você deve estar lendo isso e querendo saber como pode ajudar.

Ai como eu amo pessoas com coração bom e grande. Muito obrigada de coração.

Seja voluntário

Migs, entre em contato com a casa para agendar uma visita.

Lista de Necessidades

Atualmente, a casa precisa:

  • Café;
  • Água sanitária;
  • Desinfetante;
  • Sacos para lixo (100l);
  • Amaciante.

Segue a lista atualizada de necessidades aqui.

Ajuda financeira

Seguem os dados das contas bancárias:

Depósito Bancário
CNPJ: 69.107.142/0001-59
Banco: Itaú
Agência :0062
C/c : 35.926-0
Banco: Bradesco
Agência :0516
C/c : 70.758-9
Banco: Brasil
Agência :3050-3
C/c : 2004-4

Doações

Se você tiver doações, entre em contato com a Renata nos telefones   11 3744-7492 / 3772-5661 para combinar a retirada.

Qualquer tipo de doação.

Bazar

Tem uma lojinha na casa com as roupas e objetos das doações.

Fotos