Querida Migs expatriada,
eu nasci em São Paulo. Vivi quase a minha vida toda no mesmo apartamento em Pinheiros/ Vila Madalena (amo esse bairro!). Até que eu conheci o Thiago. Ele estava no último ano do MBA, em Michigan. E eu estava cursando MBA na FGV. Nós namoramos a distância durante um ano. Nos viamos em alguma cidade pelo mundo, como Trancoso, São Paulo, Recife, Las Vegas, Ann Arbor, Chicago … era maravilhoso, e ainda é!
Ele estava entrevistando para vagas em diversos países, até que acabou escolhendo trabalhar em São Paulo. Fomos morar juntos – pecadora e amigada feelings! – com o casamento marcado para o ano seguinte (2011).
Migs, e aí? Aí que eu nunca mudei de casa na vida, comecei a mudar naquela época e não parei mais.
Vida cigana.
Nos últimos sete anos moramos em cinco países: Sao Paulo (Brasil), Santiago (Chile), Londres (UK), Madrid (Espanha) e Amsterdam (Holanda). Foram sete casas e muitos flats, quando ainda não tínhamos casa, com duas filhas. Sempre levamos toda a mudança no container. Tá! Já posso imaginar a sua cara de “Miga, sua Loka!”.
Acho engraçado quando posto que vou me mudar. E sempre alguém pergunta admirado: Noooossa, mas o que aconteceu? Oxe, como se fosse algo ruim!
Papel de parede X Fura aqui e acolá.
Deixa eu te contar, mudar não é um problema para mim. Eu gosto.
Sabe aquele sonho de escolher papel de parede, reformar a cozinha e escolher os azulejos do banheiro? Então, não é o meu sonho. Sonho, cada um tem o seu.
Por outro lado, eu já coloco todos os quadros na parede logo na primeira semana (sou apaixonada por arte!), mesmo meu marido odiando furar parede, porque isso me faz sentir em casa.
Vida expatriada.
Migs, lembra quando seu marido falou: nós vamos mudar de país. E aí passa um filme na sua cabeça sobre o que eu fazer com a casa. Então, já passei por isso também. Tínhamos acabado de comprar o apartamento dos sonhos em Sampa, e no mês seguinte resolvemos mudar para o Chile. E foi a melhor coisa que aconteceu nas nossas vidas!
A única coisa que eu falo e repito é praticar o desapego nessa vida expatriada.
Migs, sempre vai ter o trade off. Isso é fato.
A partir do momento da sua decisão em deixar país, você terá que abrir mão de muitas coisas, e vai ganhar tantas outras também.
Já conheci expatriadas que resolveram deixar a casa montada, mas fechada no Brasil. Ops, você também? Migs, como é que a nova vida vai dar certo? Como é que você vai virar a página, e escrever uma nova história se ainda está na página anterior? A conta não fecha, principalmente a financeira. Aluga. Vende. Doa. Faça qualquer coisa desde que seja para frente, pensando no futuro.
Algumas perguntam: e se não der certo? Ahhh você faz algo na vida já pensando que não vai dar certo? Casa já pensando em separar? Claro que não.
Não precisa ser mega desapegada, como eu, nesse lance de fechar a porta e tchau. O importante é fechar um ciclo para começar outro.
Brasil X Morar fora.
Sempre. Sempre. Sempre em toda roda expatriada rola uma discussão se é melhor morar no Brasil ou Amsterdam, Londres, Madrid, USA, China, PQP e etc. Algumas preferem nitidamente o Brasil e outras qualquer outro lugar no mundo que não seja o Brasil.
Até que alguém fala da família, nossa cultura, infância … isso quebra as pernas, claro. Vamos comparar banana com banana? Nem isso da para comparar direito porque aqui, em Amsterdam, só tem um tipo de banana sendo que no Brasil tem milhares.
Migs, é claro que se você pensar na familia, amigos de uma vida toda, comida, sol … o Brasil sempre será muito melhor do que qualquer lugar do mundo.
Home is where the heart is.❤
Se você escolheu morar fora, faça desse lugar a sua casa.
Arrume, em primeiro lugar, a sua casa com tudo o que gosta. Tá sem grana? Tem site de coisas usadas e lojas baratex. Decore com adoráveis inutilidades de viagens ou do Brasil, para matar as saudades. Isso vai te fazer se sentir em casa. Fotos de familiares e amigos. Lembranças de momentos especiais.
E sabe o que fazer com a saudade? Compra uma cômoda da Ikea – certeza que você tem uma se mora na Europa – e enfia a saudade na gaveta até a próxima ida ao Brasil.
Se você não consegue se adaptar ao novo país. Tente pelo menos por seus filhos. Fale claramente e quantas vezes puder que essa é a casa de vocês. É difícil para nossa cabeça, imagina para nossas crianças? Por exemplo, as minhas filhas choram quando voltamos das férias no Brasil, mas elas nunca me perguntaram ou pediram para morar lá. Simplesmente, porque eu deixo bem claro que a nossa casa é aqui. Não quer dizer que eu não quero que elas morem lá um dia, mas elas precisam crescer e entender que nós moramos em outro local.
Em Madrid moramos apenas seis meses, mas a casa estava montada, todo mundo super adaptado, falando espanhol também, conheci amigas para uma vida toda, fiz 122mil coisas, viajamos muito e comemos todos os solomillos e croquetes possíveis até partirmos.
Não precisa me perguntar se prefiro o Brasil ou a Holanda.
Não precisa me perguntar quando vou mudar novamente.
Não precisa me perguntar onde vou morar o resto da vida.
Não precisa me perguntar até quando vou ficar por aqui.
Nós estamos felizes aqui, em hAMSTERDAM na chuvOLANDA. Isso é o que importa. Aqui é a nossa casa!
E se tiver que mudar de novo, está tudo bem também. Porque afinal o mundo é muito grande para ficarmos no mesmo lugar. ❤
Eu amo essa música e resume tudo isso.
I don’t know where I am going but I am going to make it home … e você?