Querida amiga expatriada,
essa viagem foi escolhida pelo Thiago, meu marido. Ele AMA comer e queria muito experimentar as comidas libanesas, que tanto apreciamos, na fonte. Eu fui pela história do país.
Sobre o Líbano
Primeiro, coloca seu preconceito de lado, leia tudo com o coração aberto e aprenda com os outros. É na diversidade que a gente aprende, cresce a abre a mente! O Líbano é um país lindo, que vale a pena visitar, e com um povo muito, mas muito resiliente e festivo.
Joga no Google ai, Miga, o país faz fronteira com a Síria e Israel … quer mais auê do que isso? Tem!
Em 1943, a França reconheceu a independência do Líbano. As três principais lideranças religiosas foram divididas, em números iguais: a presidência da república e a chefia do exército são maronitas (cristãos), o primeiro ministro é sunita (muçulmanos) e a presidência da câmara dos deputados é xiita (muçulmanos). Nada mudou até hoje.
But, contudo, todavia, entretanto … em 1947, a ONU definiu que o território da Palestina seria dividido para a criação de um estado judeu. Porém, nem a Síria e nem o Líbano reconhecem o estado de Israel. O Líbano recebeu milhões de refugiados palestinos, mais de 1.5M, sendo que na época tinha 3 milhões de habitantes no país. Eles vivem por lá sem cidadania há muitos anos, segregados, o que contribuiu ainda mais para o radicalismo de alguns grupos.
Misturando os conflitos e grupos radicais, em 1975 explodiu uma guerra civil no Líbano, que durou 15 anos, e deixou o país totalmente destruído. Nessa época houve uma grande migração de libaneses pelo mundo – por exemplo, alguns libaneses acreditam que no Brasil há mais libaneses do que no próprio Líbano.
Os israelenses invadiram o Líbano, em 1982, para combater esses grupos radicais, porém causou uma reação reversa fortalecendo o Hezbollah, que conseguiu expulsar Israel em 2000, e até hoje ambos tem um pacto de cessar fogo. Amém! Ufa! Que eles sigam assim, bora! Falando em Hezbollah, nós visitamos o bairro onde moram, a pé e com guia (já imagino a sua cara de – que loucos!). Os libaneses defendem muito esse grupo, porque somente eles podem defender o Líbano de Israel. O Hezbollah está totalmente assimilado à política libanesa, com representação no parlamento e câmara dos deputados (como falei lá em cima). O paranauê deles é fazer a proteção na fronteira com Israel, jamais dentro do território libanês. Os perigosos são os sunitas muçulmanos, representado pelo Estado Islâmico – nem preciso explicar isso aqui, certo? Bom, eu já fui para Israel, e obviamente não cabe escrever aqui quem está certo ou não. Gostaria apenas de explicar mais para vocês entenderem.
Antes de tudo isso, o Líbano era considerado a “Paris” do Oriente Médio. Infelizmente, tudo mudou para pior. No dia 04 de agosto de 2020, um depósito lotado de nitrato de amônia explodiu ao lado do depósito de fogos de artifício. Mais de 200 pessoas morreram, milhares ficaram feridas, hospitais foram evacuados e milhares de casas destruídas. Infelizmente, o governo não recuperou nada. Nem mesmo a área em volta do Parlamento. Parece que você visita uma cidade em plena guerra. Muito triste! Uma Ferrari estacionada e ao lado um prédio totalmente destruído. Agora, você deve estar pensando: “Para que você foi?”. O mundo é muito pequeno para ficarmos no mesmo lugar, ainda mais com a mesma visão condicionada and deturpada sobre o Oriente. Me sinto privilegiada em conhecer tantos países e culturas do lado de lá.
Energia
Uma coisa que mexeu demais comigo: a falta de energia. Demorou para eu entender o impacto de não existir energia pública no país. Somente 30 min por dia, ou seja, não tem luz a noite nos postes. A energia é fornecida por uma empresa (hello, monopólio!), em alguns bairros tem energia privada por 2 a 6 horas por dias, outros menos, mas na grande maioria não tem, muito menos a noite. As pessoas não tem geladeira. A compra do mercado é para aquele mesmo dia. Obviamente não vou nem comentar sobre ar condicionado naquele calor do cão. Conheci uma assistente social, e mesmo ela com os pais visitando de NY nao podia pagar ar condicionado, porque simplesmente nao tem, gente. O guia, com faculdade, também não tem. Entenderam? Não é aquela coisa pagou, leva. Não tem.
Muita gente reclama do Brasil. Mas vamos colocar a mão na consciência? Viva o SUS. Temos transporte e energia pública.
Essa foto abaixo são vários geradores inutilizados.
Transporte
Não tem semáforo, porque não tem energia. Não tem Leis de Trânsito. Não tem transporte público. Gente, não tem ônibus! Porém, tem Ministro do Transporte. Oi?!? As pessoas andam de carro ou moto. Não andam a pé, pelo calor do cão. Saem mais a noite, mas também de carro, porque não tem luz. Usam muito o app bolt ou uber.
Moeda
A moeda desvalorizou 20 vezes em 18 meses. É sério! Tudo é pago em cash. Tentamos sacar dinheiro nos bancos e não tem. JURO! Tivemos que achar uma loja que fazia transferência de dinheiro. Não aceitam cartão de crédito. Pior que a nota é de 100.000 a maior, mas por exemplo um restaurante chique, a noite, vai sair 3 milhões. As pessoas saem com um bolo de dinheiro. Muito surreal!
Segurança
É um país muito seguro. Eu sei, parece loucura depois de descrever tudo isso, mas é! Caminhamos por todos os bairros separados por religião, como armenios, xiitas que são os muçulmanos do Hezbollah … enfim, Beirut todinho.
Como chegar
Minha mãe ficou com as meninas em Amsterdam. Obrigada, maiê!!! Tem voo direto de Amsterdam para Beirut, pela low cost Transavia. São 4h de voo.
Hospedagem
Ficamos hospedados no Satybridge. Era bom, quarto grande e ainda não podia abrir a varanda devido a explosão. A cidade é tudo bem pertinho, então não faz muita diferença onde vai ficar. O bolt custa mais ou menos uns 60.000 a 100.000 cada corrida. Uns USD$6,00 para o aeroporto.
Hotel Beirut
Staybridge Suites Hotel
Alfred Nobel Street, Verdun P.O. Box 13-5593, Beirut, 1401, Lebanon
Beirut – o que fazer
- Alternative Walking Tour -Imperdível! Excelente! Eu jamais saberia nada de nada do Líbano sem esse tour. O Alex é muito bom. Custa $20,00 por pessoa. São 4h30 de tour a pé no calor do cão que valeu muitoooo a pena! Tem que reservar antes aqui – https://www.alternative-beirut.com/
- Sursock Palace – Um lindo palácio, no meio da cidade, que sobreviveu todas as guerras, muito pelo carisma de Mousa Sursok e também porque tinha um poço de água dentro da casa que ajudava muito durante a guerra. Infelizmente, ela morreu na explosão de 2020.
- Museu Ibraim Nicholas – é um acervo pessoal dele (já falecido), porém estava fechado para reforma devido a explosão.
- Grafites – Vale a pena caminhar e prestar atenção nos grafites pelas ruas. Tem da Fairuz, cantora mais famosa. Hips que faz muitos gorilas. L7M tambem. E o meu predileto é do Gerada, uma criança brincando com chip de computador.
- Arthaus – Tomar um café para conhecer um oásis no meio da cidade com muita arte.
- Saifi – bairro super chique
- Arqueologia – eu me perguntei várias vezes sobre isso. Porém, em Beirut tem pouca coisa, infelizmente. Tem mais em outras cidades como Balbek e Byblos. Aqui, o que você encontrar de arqueologia é seu. Isso mesmo, você também é responsável por restaurar e cuidar.
- Bairros – caminhar pelos bairros, os mais religiosos indico caminhar com o guia.
- Gemmeyzeh e Mar Mikhael – tem muitos restaurantes e bares.
- Zaytouna Bay/ Corniche/ Pigeon Rock/ – meu marido correu por aqui. Gostou muito.
- Downtown Beirut – parece outra cidade. Lojas mais caras do mundo-mundial-universal.
- Parlamento e região – demos uma volta a pé. O prédio é bem bonito, porém a região toda em volta foi destruída na explosão e não reformada.
- Porto Digital – 20% da renda vem desse bairro nas start ups.
- Souk el Tayeb e Souk Al Ahad – mercado de comida de rua.
Byblos – o que fazer
O motorista Mohiedine nos levou para passar o dia em Byblos. Marca com ele: +961 3 813 903. Caminhamos pela Citadela. Os fenícios que viviam aqui, por volta de 1200a.C. se tornaram uma potência marítima no Mar Mediterrâneo. Alguns anos depois, foi tomada pelo Império Romano.
Andamos em todooooo souk para a tristeza do meu marido. Por que choras, Thiago? hahahaha Sim, comprei horrores e enfiei tudo na mala de mão.
A parte da praia é linda. Tem um calçadão e alguns restaurantes.
Jeita Grotto
Quando pequena, eu ia muito para as grutas em MG. Tem uma mais linda do que a outra! Mas essa aqui … é muito uau! É a segunda maior do mundo. Uma parte não pode levar o celular. Na segunda parte, pelo barco, é mais inacreditável ainda.
Restaurantes
Eu jamais vou esquecer as delícias que comemos no Líbano. AMAMOS!!! Os temperos, cores, a cremosidade do hummus, quibe de comer rezando e muito mais. Fomos do mais barato ao mais caro, e claro, preferimos o mais barato 1222mil vezes.
- Mezze – bem animado e comida deliciosa
- Le Chef – pagamos $10 e comemos MUITO bem!
- Baron – amei tuuuudo la!
- Loris – de comer rezando.
- Hanna Mitri sorvete – pedir halib (queijo), wared (agua de rosa), croquant e lemon.
- Um Sherif – é o mais famoso. Tem em diversos países. Aquela coisa ver e ser visto, porém a comida não é tudo isso. Custa USD$35 por pessoa.
- Falamanki
- Salon Beirut
- Rasiif
- Chouf
- Jbeil
Pelo país …
Não tínhamos tempo. Ficamos 4 dias. Porém, se eu tivesse mais tempo iria para Batroun. Uma praia linda e descolada. Joga no google o hotel Rocca Romana. Tem um restaurante sobre a água. O norte do país é lindo demais também!
Salvei todos os stories nos highlights do meu instagram @expatriadaporamor.
Eu nunca tinha entrado no seu blog! Que vergonha!!!! Lembrei que você foi ao Líbano porque estou olhando uma viagem pra lá e se tinha dúvida, agora tenho certeza! Seu post me fez querer ainda mais! Obrigada!!!!
Nati, que experiência única essa de vcs, obrigada por compartilhar todo esse aprendizado com a gente, incrível mesmo!
Oi Natalia, tao bem escrito teu texto q fiquei com vontade de conhercer NAO KKKK de tudo q foi mostrado adoraria ir à gruta.
Abraços
Muito bom. Gratidão meus queridos por compartilhar mais essa experiência
Que experiência marabilhosa.
Muito bem escrito.