A (des)romantização de morar na Europa

O sonho de morar na Europa

Quando eu fiz 15 anos, minha mãe perguntou se eu queria uma festa. Eu pedi uma viagem para a Europa (sim, tenho super noção dos meus privilégios). Meu sonho, na época! E viemos para Portugal e Espanha por 45 dias. Lembro que meus pais alugaram um carro, mapa de papel, e eu trouxe fitas com músicas (millennium geração chora!). Rodamos os dois países de norte a sul, leste ao oeste. Desde então, quando eu juntava um pouco mais de dinheiro era para gastar nas viagens para a Europa.

Cada um tem suas prioridades, a minha sempre foi viajar AND atualmente pagar a escola privada das nossas filhas.

Confesso que nunca imaginei minha vida morando aqui, na Europa. Até porque eu nunca me imaginei morando fora do Brasil para sempre. E hoje, não imagino voltar para o Brasil com a familia.

Quando mudamos para aqui, há 7 anos, eu me encontrei no mundo. Sabe aquele rolê de pertencimento? Então aqui é onde eu quero criar minhas filhas.

Morar aqui não me faz cega. Tem dias e dias.

O vento da poha que entra no útero. A chuva sem parar que molha até a calcinha (juro, entendedores entenderão!). O frio de outubro a abril com milhares de camadas de casacos. O rolê do transporte público. Andar de bike é lindo, mas não na chuva e com as compras do mercado rolando pelo chão. Sair para jantar com o marido, vamos gastar uns 40/50 euros somente de babá. A falta de familia perto para um colo nos dias tristes. Isso, realmente, intensificou demais no meio de uma pandemia. Enfim, o conforto padrão e a varanda gourmet da classe meeerrrdia brasileira não tem aqui.

Foto do insta: @ficaadicaholanda

A (des)romantização de morar na Europa

Uma vez minha filha mais velha, com 5 anos, na época, ficou presa do lado de dentro do metrô, e eu do lado de fora. Desesperador. Quando contei para uma amiga que mora no Brasil, ela disse que pelo menos era um vagão de metrô na Europa. Gente, não isso não é OK, tá? Outra vez minha filha teve uma convulsão. Aconteceu a mesma coisa: “Ahhh pelo menos foi na Europa’.

Quiiiiirida, a vida aqui não é a oitava maravilha do mundo!

Não é porque eu moro na Europa que não tenho problemas. Claro, eu não tenho, de muuuito longe, os mesmos problemas do Brasil como segurança, porém temos outros tipos de perrengues que também são difíceis. A minha dor não apaga a sua dor. Vice-versa. Cada um sabe onde o sapato aperta.

Se você está chateada, porque sua babá não faz brincadeiras educativas com seu filho. Aqui, eu nunca conheci alguém que tivesse babá mensalista. Não tem Tio, Tia, Madrinha e Avós para ficarem com as crianças. Enfim, tudo isso pesa na balança.

Se você escolheu mudar, saiba que vai passar perrengue atrás de perrengue.

Coisas que você achava simples, tipo o lixo. Aqui é uma aula de mestrado até entender onde vai cada lixo. Imagina juntar lixo de papel 1 mês em casa.

Estilo Jumanji. Tem níveis de perrengue. Quando conheço alguém que acabou de chegar, eu já tenho vontade de abraçar porque já sei que rolaram lágrimas semanais de tudo junto e misturado.

E a Ikea? Aquela relação de amor e ódio. Comprei em todos países, e by the way preciso passar lá essa semana para comprar uma prateleira de livros. A gente quer uma coisa melhor, mas aí pensa viajar X móvel da Ikea? Só em 2021, quando eu completar 8 anos fora do Brasil que eu vou ter meu primeiro sofá phynah, mas o tapete segue Ikea.

Acho que o pior de todos perrengues mesmo é conseguir emprego. PQP! Nível 122mil na escala de dificuldade. Esqueça seu MBA e pós na melhor Universidade do Brasil. Não vai rolar, porque não tem experiência de trabalho aqui. Vai rolar depois que você ralar em várias entrevistas, e piora ainda em países como Holanda, Alemanha e outros que dependem da língua local. Eu acho muito engraçado essa auto estima brasileira de achar que trabalha muito. Deixa eu te contar, a gente enrola muuuito no escritório no Brasil, porque ficar até ás 21h não é sinônimo de produtividade. As pessoas acham que é só chegar aqui e conseguir emprego. É fodástico!

Depois de tudo isso e mais um pouco, os meus valores de vida e família são muito maiores do que a saudade, entende? Eu consigo conviver com a saudade, mas eu não consigo mais conviver com jeitinho brasileiro, com a falta de segurança e etc.

O que você ganha? O que você perde?

Depende muito de como você vem, mas o saldo é sempre positivo se você levar para o viés de se tornar uma pessoa melhor para o mundo.

Conheci pessoas que venderam tudo, e vieram com duas malas e muuuuita garra. Conheci pessoas que vieram com todo o rolê pago: aluguel, carro, escola e passagem para o Brasil. Conheci pessoas que vieram em familia e um contrato de trabalho local. Conheci pessoas que vieram ilegais.

Enfim, existem 122mil possibilidades, mas o fato que liga todo mundo é essa infinita corda bamba entre saudade e a vontade de ficar.

Cada um é diferente. Cada um tem uma bagagem diferente.

Eu sou uma pessoa zero planejamento, só planejo viagens. E nesse caso, todo mês de janeiro eu já pago todas as viagens do ano para casar a minha agenda de férias do trabalho, com a do Thiago e a escola das meninas (coronavírus uooo!). Porém, antes de mudar e também morando aqui, considero essencial fazer essas perguntas para você não perder sua essência:

Qual é a sua condição como partner?

Isso é MUITO importante.

A maioria das expatriadas muda como partner (acompanhar o companheiro). Vice-versa. Alguns homens também vem acompanhar a esposa, mas em menores casos.

Você precisa sentar e conversar, claramente, sobre o rolê financeiro.

Quem é você na fila do pão de não gerar uma renda? O parceiro reclama dos gastos? O parceiro deixa gastar sem limite?

Enfim, cada relacionamento é diferente.

Eu confesso que para mim foi muuuuuito difícil na minha primeira mudança para Santiago, Chile. Eu fiquei 10 meses sem trabalhar. Não pelo meu marido, mas por mim, porque eu me cobrava demais.

Não pode ser tabu.

Você precisa entender que o dinheiro é da família.  Seu marido também precisa entender isso.

Ele só está onde está porque tem alguém (você!) cuidando dos filhos, escola, casa, comida, roupas e burocracias do dia a dia. Simples assim. Sogras, reconheçam e agradeçam as belas noras expatriadas! Não é qualquer mulher que abre mão da vida, família e carreira para viver o sonho do marido.

Quais são os seus valores inegociáveis? 

Por exemplo, para mim é inegociável não trabalhar.

Eu só vou mudar para um país que eu tenha um visto de trabalho e que eu possa buscar um emprego. Não funciona na minha vida, e consequentemente para minha familia, porque eu estaria infeliz não trabalhar. Happy Wife. Happy Family.

E para você, o que é inegociável?

O que é o meu custe o que custar? Qual é o meu limite?

Eu não mudei do Brasil para ter menos do que eu tenho no Brasil. Não em termos financeiros (certeza que você já pensou nisso!), mas em qualidade de vida.

Hoje, na Holanda, eu tenho a MELHOR qualidade de vida de todos países que morei. O meu limite é esse. Menos qualidade de vida, eu não aceito mudar de país. Juntando isso com minha idade, 39 anos, quero mais é qualidade de vida do que “ter”.

Eu também queria trabalhar na mesma área (TI) que eu trabalhava no Brasil, mesmo se eu precisasse dar uns passos para trás, mas não em outra área.

E para você, qual é o seu custe o que custar?

Tenha sempre um limite. Porque o limite é você que impõe, não o outro ou a sociedade. É importante saber até onde você consegue ir e quando parar. Não aceite nada menos do que isso.

 

 

 

 

Alsace, França, com crianças

Querida amiga expatriada,

eu tinha marcado férias em outubro, na semana do break da escola, mas em tempos de pandemia é melhor não planejar nada com antecedência. Resolvi cancelar e antecipar as férias para agora. E lá fomos nós para a França, de carro, novamente.

Alsace

Me apaixonei por essa região vendo as fotos dos mercadinhos de Natal. Eu já passei por muito perrengue chique em mercadinhos congelantes com duas crianças pequenas, portanto prefiro pular essa parte. Estava esperando uma oportunidade de conhecer essa região linda sem ser no inverno.

Viagem

Saímos de carro de Amsterdam pela manhã, paramos na Bélgica para almoçar e seguimos viagem. Foram 7 horas de carro.

Nossos amigos de Londres também foram de carro.

Onde ficar

Super mega ultra power indico o Airbnb que ficamos.

Clique aqui para mais informações.

Tem 4 quartos bem confortáveis, 2 banheiros, piscina privada aquecida e sauna.

Masevaux

Ficamos hospedados em Masevaux. Uma cidade fofa de 3500 habitantes. A rua principal é cheia de guarda-chuvas coloridos. As padarias são uma delicia. Me acabei nas farmácias francesas também.

Rougemont Le Château

Minha amiga de Londres conhece o genro do dono do castelo. Ele nos convidou para darmos comida aos veados. Uma experiência inesquecível para as crianças. Levaram as comidas (muita!) e ficamos esperando eles virem comer.

Lac D’Alfed

Uns 20 minutos do nosso Airbnb tem esse lago L-I-N-D-O!

Era aniversário de 8 anos da Valentina, minha filha, e decidimos passar o dia por lá. Fizemos uma caminhada. Ela amou, porque é apaixonada por água.

Vinícolas

A estrada toda tem milhares de uvas. A coisa mais linda do mundo! Em alguns precisa agendar a degustação com antecedência. Não pagamos por nenhuma degustação. Eita, delícia!

Nós fomos em duas:

  • Soultzmatt
  • Wihr-Au-Val

Claro que compramos vários vinhos. Voltamos com o carro bem abastecido.

Strasbourg

Passamos o dia em Strasbourg. Estacionamento o carro no museu.

Não perca:

  • Palacio Rohan
  • Catedral Notre Dame (sim, gigante e linda como de Paris)
  • Place Kleber
  • Place Gutenberg como o carrossel mais lindo do mundo de dois andares
  • La Petit France
  • Restaurante Gurtlerhoft

Kayserberg

É a considerada a cidade mais linda da França. Eu concordo 122mil%.

Cada ruazinha é uma surpresa. O passeio é andar sem rumo, se perder, se achar e apreciar cada detalhe dessa cidade. Tem uma loja de brinquedos na entrada da cidade, as meninas piraram. Estava muito calor e se esbaldaram na fonte.

Comemos super bem, e ainda deixei espaço para um waffle de Nutella, claro.

Não perca:

  • Rue du Generalle de Gaulle (rua principal)
  • Catedral (linda com vitrais parecidos com a Notre Dame)
  • Weiss (ponte construída para evitar antigos inimigos)

Riquewihr

Basta dirigir por mais 20 minutos para outra cidade encantadora.

A entrada é um portal de um hotel bem florido. Uma vista linda de todas casinhas coloridas. Não deixe de ir na lojinha Feerie de Noel, vários andares das coisas mais fofas de Natal.

Colmar

Pasamos o dia em Colmar.

Não perca:

  • Fontaine Bruat (crianças podem brincar na água no calor)
  • Place de la Cathedrale
  • Ancien Corps Garde
  • Maison Adolph
  • Grand Rue
  • Rue de Clefs (comercio. Minha loja predileta Pylones de adoráveis inutilidades)
  • Petit Venezia
  • Quartier des Tanneurs
  • Quai de la Poissionerie
  • Mercado de comidas é uma delícia. Queijos fedidos e maravilhosos. Quanto mais fedido, mais gostoso, certo?

 

França, nos vemos em breve! 😉

Um ano sem comprar roupas. Será que eu consigo?

Querida amiga expatriada,

me conta aqui como é a sua relação com as compras? Mais especificamente, as roupas.

Rolê das Compras

Minha relação com as roupas começa no Brasil há anos.

Eu sempre AMEI moda. Desde que os blogs de moda começaram, eu seguia e lia vários. Adorava saber da última tendência do neon-amarelo-cheguei-fluorescente. E, obviamente, eu comprava e usava.

Roupas no Brasil X Roupas na Europa

Mudei para Santiago, Chile. Fiquei dois meses morando em um flat, e levei 6 malas de roupas minhas, Thiago e Valentina. Gente, me conta, por quê? Para que? Obviamente usei quase nada.

Mudei para Londres, UK. A mudança levou um mês para chegar, então levei 4 malas de roupas. Foi nessa mudança que eu me toquei na quantidade de roupas que eu tinha, sem necessidade. Lembro que tiraram todos os móveis das caixas e montaram as camas e tudo mais, mas as roupas eram minha responsabilidade. Passei DIAS para guardar tudo AND 122mil sapatos de salto alto. Tive que comprar cômoda da Ikea. Para que tudo isso?

Morei quase três anos em Londres. Aprendi que o rolê era outro. Não usei nem metade das minhas roupas, e principalmente sapatos. Primeiro, pelo clima porque chove e faz frio o ano todo. As bruuusinhas do Brasil não deram match por lá. Obviamente comecei a doar tudo. E os 122mil sapatos de salto alto quando eu trabalhava na JK, perto da Faria Limmer, já não faziam o menor sentido. Doei mais do que a metade.

Na mudança de Londres para Madrid, fui para o Brasil passar um mês somente com duas malas para a familia toda. Tudo o que precisávamos estavam naquelas malinhas, e já eram mais do que suficiente. Finalmente, aprendi.

Mudei para Madrid. Eu tinha um armário bem maior. Morei apenas seis meses, mas na melhor época do ano: final de inverno, primavera e verão. Acabei comprando umas roupas de verão na Zara, claro né! Ainda mais lá que a Zara tem coisas lindas.

Mudei para Amsterdam, Holanda. Finalmente, mudei não só de país, mas de mentalidade. Aprendi demais aqui. Desapeguei dos 122mil saltos. Guardei alguns, que uso pouco, e ainda tenho três na minha gaveta do trabalho, porque vou de tênis no bus/ trem.

Desapeguei das roupas. Me apeguei aos acessórios.

Você faz compras para sua vida imaginária?

Você pensa: “Eu preciso perder 5kg”. Vai lá e compra várias roupas de ginástica, matricula na academia, compra suco detox, fecha personal, compra pacote de massagem, pega receita de comidinha fit, compra tudo que é verde no mercado e … pimba! Passam meses e não usufruiu nadica do que investiu. As comidas estragaram em casa. Os 122mil tops da academia estão na gaveta. E seu corpitcho segue o mesmo. Se identificou?

Você tem filhos, mas mora fora do país, sem ajuda e sem família. Numa folguinha, passeia pelo shopping e compra roupas chiques e da “balada”. Você compra porque pensa: ” Ahhh vou usar essa blusinha mara de paetê quando sair”. Agora me conta quantas vezes você saiu chique e phynah morando no exterior com filhos? Quase nunca porque ainda tem que pagar no mínimo 50 euros de babá pelas horas. Se identificou?

Você mora fora do Brasil e só usa tênis,  porque anda muito, mas sempre compra sapato de salto. Vários. Super lindos! Vai usar onde? Se identificou?

Você tem 122mil blusinhas de verão e rasteirinhas de todas as cores, mas passa 8 meses do ano morando em um país frio da Europa. Se identificou?

Você tem vários biquinis e compra, sempre que vai ao Brasi, novos modelos mas usa apenas nas duas raras viagens durante o ano. Se identificou?

Você segue as blogueiras no insta e compra algo que elas “recomendaram” no publi post. Elas ficam ainda mais rhycahs e você mais pobre. Se identificou?

Você tem 122mil bolsas clutches no armário e quase NUNCA Se identificou?

Se você respondeu SIM para todas ou quase todas perguntas … tmj! Eu estava nessa vibe há uns dois ou três anos.

Um ano sem comprar roupas

No primeiro dia de 2020, eu coloquei na minha cabeça que iria passar UM ANO sem comprar roupas. Gente, roupassss somente! Eu não posso ficar um ano sem comprar acessórios. Me julguem!

Não foi uma promessa para fazer isso e conseguir aquilo. Foi mais porque eu acho que esse rolê do consumismo é too much. 

Armário com Borogodó

Hoje eu tenho um armário com menos roupas. É da Ikea, tamanho normal, a porta da direita é minha. A do meu marido é da esquerda.

Tenho roupas:

  • Muito coloridas (minha cara!).
  • Muitas saias, porque posso usar no verão, e no inverno com meia-calça.
  • No verão, eu só uso vestidos longos.
  • 5 calça jeans. Nao tenho calça social ou calça flare, porque aqui chove e molha toda barra andando a pé, bus, trem e bike. Para trabalhar, eu uso saia social com meia-calça. Para mim, esquenta mais do que calça.
  • Menos blusinhas de verão, mas muitos casquinhas e blazers coloridos.

Acessórios

Os acessórios mudam qualquer look. Basta prestar atenção nas fotos acima.

Eu uso as mesmas roupas no inverno: calça jeans ou saia (quando vou trabalhar), casaquinho da Zara e casacão, mas coloco um colar diferente, mil pulseiras, um cinto bacanudo e um cachecol mega colorido. Muda tudo!

Vamos combinar que no mundo não tem acessórios mais lindos do que no Brasil. Quando eu viajo, sempre vou nas lojinhas dos museus, porque sempre tem colares diferentes. Amo pulseiras.

Sou apaixonada por algumas lojas no Brasil de acessórios. Babem:

7 meses sem comprar roupas

Pois bem, cá estou há SETE MESES sem comprar roupas. Uhuuu! Venci na vida!

A pandemia ajudou? Muito! No começo, eu abria meu armário e afirmava que não tinha para onde ir com tudo isso. Eu (e todo mundo) achava que seriam 15 dias de pandemia, mas aí o cenário foi mudando e alongando.

Com 122mil calls durante o dia, me peguei várias vezes enchendo carrinho de loja e fechando o site. Muitas vezes por dia.

Pior! Eu percebi que nos dias que estava triste, eu tinha vontade de comprar. Feio isso, né? Mas é a verdade. Estou aqui, de coração aberto, para contar. Foi muito bom saber esse gatilho para tentar driblar.

O ano de 2020 só tem cancelamentos. Pensei em cancelar esse rolê também. Talvez eu cancele. Talvez não. Não sei … no final do ano te conto! Mas só sei que foi LIBERTADOR ficar SEIS MESES sem comprar roupas.

E você, precisa mesmo de tudo o que tem? Vamos refletir juntas. 🙂

Resultado

Querida amiga expatriada, fiquei nove meses sem comprar. Foram 270 dias que eu não comprei roupas em 2020.

 

 

 

Você tem vontade de voltar para o Brasil?

Querida amiga expatriada,

pois é, essa é a pergunta que eu mais escuto das minhas amigas, das desconhecidas e que deve passar na sua mente.

Eu super entendo, tá?

Sete anos morando fora do Brasil

Valores

não é novidade que tenho 122mil amigas pelo mundo afora. Estava conversando com minhas amigas do MBA – Fabi, Me e Re – que por sinal, cada uma mora em um país diferente, e estávamos trocando experiências entre México, Holanda Alemanha e Brasil. Até que a Fabi falou …

Ser expatriada é passar pela terra e viver duas vidas em uma.

Migs, parei, pensei e é verdade esse bilhete!

Esqueça tudo que você viveu até agora. Inclusive suas referências. Só não esqueça seus valores (nunca!). Agora, faça um reset. Pronto. Pode começar tudo do zero.

É bem por aí …

Não carregue essa bagagem. Deixa essa mala em qualquer lugar. Muito pesada.

Não adianta carregar bagagem nenhuma, no sentido de pré-conceitos na sua cabeça, porque  isso tudo só vai gerar frustração.

Sabe quando você mora fora do Brasil, e pensa que se tivesse feijão marrom Camil seria bom. Se tivesse arroz Tio João, seria bom. Se fizesse sol, seria bom. Se tivesse sua família, seria bom. Migs, é claro que se tivesse nossa familia + praia + verão e sei lá mais o que, tudo seria maravilhoso, mas não é bem assim.

Depois que você expatria, é como se vivesse os dois lados da mesma moeda. Está na mesma vida, mas com perspectivas diferentes.

Você NUNCA mais será a mesma! Tenho certeza disso.

É o famoso “big picture”, você sai daquela vida e olha o todo com uma nova visão.

Eu morei em cinco países nos últimos anos. Eu tenho a certeza que não serei “completa” em nenhum país e tudo bem. Eu aceito isso.

Depois de “experimentar” tantas vidas, sabores e culturas. Eu sei o que eu gosto, não gosto e o que eu sinto falta. Não da para ter tudo. Não vou achar um país com muito sol, seguro, com o emprego dos sonhos AND minha familia e amigos. Não existe.

Não projete as coisas.

Não adianta projetar.

Achar que sua vida no Brasil é uma boxxxta, e fora do Brasil será maravilhosa. Sim, claro, será melhor em muitos aspectos, mas em outros você vai chorar e pensar: WTF eu vim fazer aqui nesse perrengue chique?

 

Quando você sai do Brasil, e experimenta outra cultura, você nunca mais sera feliz 100% em um lugar, e tudo bem. Porque ja provou outras experiências e países.

 

  • onde estou?
  • onde vivo?
  • o que eu quero?
  • emprego? o emprego te puxou para seguir em frente e sair dessa zona de conforto
  • ja ficou triste? o que eu faço?
  • nao faco?

 

Super hiper mega ultra qualidade de vida, bem-vinda a Holanda. 

Migs,

lendo esse título você achou que a minha vida está fácil assim, né? Rá! Deixa eu te contar que está bemmm longe disso. Esse post é para contar minha experiência, depois de quase três anos, nessa terra maravilhosa, a Holanda.

Pacote completo: cidade mais fotogênica ever evahhh + multinacionais + muito verde

Vamos falar sobre Amsterdam. Você conhece? Se não conhece, pode colocar na bucket list, porque essa cidade é apaixonante para quem visita e para quem mora. Com toda certeza do mundo! Eu não conheço nenhuma pessoa que tenha falado que não acha essa cidade linda.

Deixa eu te apresentar a cidade mais fotogênica do mundo, Amsterdam.

Parece uma casa de bonecas ao ar livre. Todas as pontes, com a vista dos canais, são lindas, e mesmo morando aqui depois de anos ainda paro para tirar 122mil fotos blogueirany. É apaixonante mesmo.

O Brexit ajudou muito a vinda de muitas empresas para a Holanda, principalmente Amsterdam, Rotterdam e Haia. Temos muitas áreas globais de multinacionais. É bom para a empresa em relação aos impostos, e principalmente para o expatriado, onde é possível aplicar para o 30% rule e usufruir desse benefício por 5 anos (eu e meu marido estamos nesse rolê!). Isso já torna um belo atrativo para quem quer morar aqui.

O custo de vida é alto, como qualquer  grande metrópole, por exemplo Londres e Paris, mas Amsterdam ainda tem aquele charme de cidade pequena. E espero que nunca perca isso, o que a torna muito especial.

Verde, sabe? Agora bota mais verde nisso. Muitos parques, árvores em todos caminhos e paisagens incríveis.

É muito bom para xóóóvens, idosos, solteiros, casados, enrolados e famílias.

Tem muita diversidade.

As pessoas são livres de verdade.

A língua é dutch mas TODO mundo fala inglês.

Tudo funciona.

Enfim, para mim, esse é o pacote completo para a …

Super hiper mega ultra qualidade de vida

Eu já morei em cinco países, e depois de toda essa bagagem não tenho a menor dúvida que aqui é onde eu tenho a melhor qualidade de vida ever evahhh. Não somente eu, mas toda minha família.

Para quem nunca teve uma experiência fora, fica um pouco difícil de explicar, mas vamos lá: qualidade de vida não é o que você pode financiar. Senão seria bem fácil para os rhycos, né? Pagar e ter, simples assim. Nope! A qualidade de vida é o que o governo proporciona para você ter uma vida melhor.

Sobre distância

Para começar, depois de morar 3 anos em Londres, foi bem impressionante esse lance da distância quando cheguei aqui. Lá eu não poderia ligar para uma amiga e falar para nos vermos daqui a pouco. Combinar em cima da hora, em Londres, não é possível. Tudo leva uma hora de metro AND tem que reservar qualquer boteco com muita mas muita antecedência.

Aqui tudo leva 20minutos. Seja de bike, trem, bondinho ou ônibus. Uber também.

A cidade é muito pequena, e o país tem a mesma quantidade de pessoas do que a capital de SP. É possível atravessar o país todo em 2h30 ou 3horas no máximo.

Eu, por exemplo, trabalho ou trabalhava (antes da pandemia) três vezes por semana em casa, e duas vezes por semana em Rotterdam, no sul da Holanda. E tudo bem essa locomoção porque os trens são maravilhosos. Mega estrutura, partem e chegam no horário.

A vida em cima de duas rodas

E essa vida em cima de duas rodas? É boa demais.

Os pais levam os filhos na bikefiets, aquela bicicleta cargo. Os filhos aprendem desde cedo a pedalar, pelo menos a Vic já aprendeu com 3 anos a andar de bike sem rodinhas. O vento na cara, as distâncias mais curtas e aquela poha da chuva que entra no útero incomodam, mas ainda o saldo é bem positivo.

Vida ao ar livre

A Holanda tem praia, lagos, diques, piscinão de ramos, parquinhos e muitos parques. Tem MUITA coisa ao ar livre. Muita mesmo! A vida é mais leve assim, com certeza. E o melhor? Isso tudo é de graça.

As crianças mais felizes do mundo!

Você pode confirmar nesse livro – The Happiest Kids in the World! 

Eu li e recomendo.

Vida linear holandesa

Sim, aqui a vida é linear, aos nossos olhos, desde sempre e para sempre.

Vamos lá!

O bebezuco holandês nasce. Como? A mãe tem parte do parto em casa assistida pela midwife, e depois vai para o hospital público. Pode ser o parto todo completo no hospital e muito bem assistida. Se quiser ter parto natureba em casa, também é uma opção bem comum.

Nasceu. Vai para sua casita. Uma enfermeira – isso mesmo! – fica na sua casa durante cinco dias, mais ou menos, acompanhando e auxiliando a vida da sua famīlia com o novo bebezuco. Ela ensina a amamentar, arruma a cozinha, fala para o novo pai fazer tal coisa, a avó outra coisa e cuida do bebê por algumas horas por dia. É realmente incrível! Quem paga isso? O povo com o dinheiro dos impostos – os brasileiros nem sabem que isso é possível, porque não sabemos para onde vai o dinheiro dos nossos altíssimos impostos.

Aí vem o governo, que te direciona para tudo! É tipo um Big Brother. Migs, já leu o livro 1984 George Orwell? Então, mais ou menos nessa agenda.

A mocinha te liga e fala que você tem que levar a filha para pesar no lugar X, tomar vacina na idade Y e fazer outro consulta no dia Z.

O bebezuco cresceu.

Assim que faz 4 anos, no dia seguinte vai para a escola pública (sem adaptação mesmo, no meio do ano letivo). E tudo bem, porque a criança holandesa aprende a ser independente desde que nasce.

A escola não é como em Londres, onde a escola pública é boa depende do local que você mora. Por aqui, todas as escolas tem o mesmo nível. Não importa se fica no Norte ou Sul da Holanda. No bairro mais chiquetoso ou no bairro mais simples, claro que alguns bairros terão mais imigrantes do que outros mas o que eu quero explicar é que o nível de ensino é o mesmo.

Estuda. Estuda. Estuda.

Lá pelos 8 anos de idade já pode ir de bike sozinho para a escola.  Acho demais isso!

Aos 9 anos aprende inglês. Um inglês perfeito e sem sotaque para sempre. Eu fico passada como qualquer holandês fala inglês super bem. Milhões de vezes melhor do que nós, brasileiros. So sorry, mas é!

Agora vem o rolê diferente aos 12 anos (secondary school). A escola/ governo/ Big Brother ou sei lá como você queira chamar isso, decide o que você vai fazer da vida. Curso Técnico. Faculdade. Mestrado. Talvez Doutorado? Isso mesmo, Migs! Não é você quem escolhe o que fazer da vida, mas sim eles te orientam o que é melhor para seu perfil com base no seu desempenho até aquela idade. Por aqui é OK parte da população não ter faculdade e muito menos não ter ambição para isso. Tipo uma seleção natural de Darwin, digamos assim.

Eu não concordo com esse sistema, porque eu não fui uma boa aluna até essa idade. Por outro lado, eu acho muito correto TODO mundo ter oportunidade profissional nesse país, entende? Desde a pessoa que fez o curso técnico a quem tem mestrado. E não existe aquela cobrança dos pais esperarem que o filho seja o melhor. Sabe por quê? Porque eu acho que é uma questão de crescer na empatia do que na competição, como nos EUA. Pronto, falei.

Sistema público de saúde

No meio de tudo isso, a saúde é publica, mas tem que ter um seguro saúde que custa na média de 100 euros por mês, por adulto. Criança não paga. Eu sei, parece estranho ser público mas tem que pagar.

Não tem como simplesmente querer um médico particular, especialista em XPTO porque não vai rolar se o seu huisarts (médico da família) não aprovar.

Eu nunca tive problema com o sistema daqui. Obviamente não é o melhor do mundo para o brasileiro, porque a gente gosta mesmo é de fazer 122mil exames, pesquisar no google e dar o nosso próprio diagnóstico, né? Porém, quando é um problema grave, para eles, o governo dará toda assistência necessária. Para prevenção é como qualquer país na Europa, não tem mil exames.

Part Time Job

Mamadag e Papagad. Na quarta, normalmente, é dia do pai ou mãe ficarem com os filhos. A escola pública funciona até às 12h. Outros pais escolhem outro dia da semana. O salário é reduzido e tudo bem.

A maioria das mulheres trabalha 4 vezes na semana. O que chamamos de part time. Eu não faço, mas todas as mulheres da minha empresa fazem. Isso não quer dizer que elas se matam até tarde para compensar nos demais dias. Nope! Saem as 17h do escritório.

Burocracias

Tudo funciona perfeitamente.

Precisa ir a prefeitura? Deve ser no máximo 8 minutos da sua casa. Tudo novinho. Café do bom e de graça. Área para kids. Seu “problema” é resolvido em menos de uma hora.

Tem um plano de pensão bom.

A parcela de compra de uma casa é mais barata do que aluguel.

Os vizinhos “controlam” a vida dos outros. Se você está fazendo tudo correto. É um pouco invasivo no começo, mas depois voce aprende a responder/ dar um fora.

O imposto é super alto. Até 52% do seu salário.

Burn out

Vou começar do final para o começo … burn out.

Eu estava na casa de uma amiga indiana, a Natty.  Conheci duas médicas, uma indiana e outra americana, que vieram acompanhar os maridos e estudaram praticamente tudo de novo AND holandês para exercer a profissão aqui. Eu morro de orgulho dessas pessoas!

Enfim, conversa vai e vem. Ambas falaram que TEM que dar muito atestado de burn out.

Migs, o burn out é exaustão nível master. O fato é que ambas também falaram que tiveram que “aprender” o que era o significado dessa exaustão nível master para eles, holandeses, porque para elas não era.

Migs, claro e óbvio que tem burn out real mesmo. Uma amiga próxima já teve. Porém, aqui, a médica disse que é só o chefe pedir para ficar 1 horinha a mais e a pessoa já tem isso. É só ter uma pressão mínima no trabalho. E além do mais é muito mais difícil, pela Lei, a empresa despedir um colaborador.

Por quê tem muitas solicitações de atestados? Segundo as médicas que eu conversei, os holandeses tem uma vida perfeita demais. Quando algo é diferente ou sai do padrão deles já se torna um problema. Muito grave.

Sabe first world problem? 

Sabe esforço?

Sabe lutar?

Sabe começar do zero?

Sabe desigualdade social?

Sabe miséria?

Sabe passar perrengue fodástico? Então, não existe aqui! Eles não sabem que é isso.

Primeiro dos Primeiros Mundos, Migs!!!

Fórmula de Sucesso

Eu não estou aqui para julgar se esse modelo é certo ou errado. Quero apenas compartilhar essa visão depois de quase três anos de Holanda.

Para alguns (já escutei muito isso!), o holandês é preguiçoso, o famoso braço curto. Ele não está muito preocupado se não vai rolar emprego, porque ele sempre terá. Para outros, ele é grosseiro. Para muitos, ele leva uma vida entediada, onde tudo é perfeito e não tem problema grave.

Nessas horas que a gente percebe como morar fora do seu país, sair da sua casinha, dos pré-conceitos, experimentar novas culturas, sabores, e tentar entender uma outra mentalidade faz TODA diferença na vida. A gente cresce demais.

E eu só posso mesmo agradecer MUITO em aprender, com eles, tudo isso e ter cada dia mais certeza que esse país tem a melhor qualidade de vida mesmo!

Eu não estou partindo, mas eu agradeço muito e sempre. Obrigada Holanda por tanto!