Vale a pena trocar seis por meia dúzia na carreira x maternidade?

Querida Migs expatriada, 

Conversa vai e conversa vem. E eu sempre vou voltar no assunto carreira x maternidade.

No blog tem vários posts, como esses: 

Mãe expatriada X Carreira internacional

Sobre conseguir emprego na Europa

She finds a way

Você trabalha?

Quer trabalhar na Europa? 

Dopada de vida de Cinderela

Oi, muito prazer. Essa sou eu no Brasil. 

Migs, eu morava rhycah-plenah-phynah nos Jardins, em São Paulo, quando a Valentina nasceu. Entre as mamadas passeava na Oscar Freire, ela dormia tranquilamente no carrinho.  Depois mudamos para um apto coxinha-varanda-gourmet com brinquedoteca, piscinas e 122mil salões de festas. Minha mãe e meu sogro moravam perto e sempre nos ajudavam. Eu ía a pé ao trabalho, e Thiago trabalhava no Itaim. Eita vida boa na bolha paulistana. 

Quando a Valentina fez seis meses, tínhamos acabado de comprar um apartamento, e mesmo assim enfiamos a casa em um caminhão (container), vendemos carro, moto e fomos para o Chile.

Nesse momento acordei para a vida! O clique, sabe? Quem já passou, sabe bem o que estou dizendo. Acordei da vida dopada de Cinderela. 

Sobre ser mãe fora do Brasil 

Eu não tenho a menor ideia do que é ser mãe no Brasil. Atualmente, as minhas filhas tem 4 e 7 anos de idade e toda a vida delas moramos fora do Brasil. 

Migs, se você é mãe, e está chegando agora na Zoropa, se já mora por aqui ou pensa em mudar para esses lados, saiba de duas coisas: 

1. Vai passar perrengue chique 

2. É fodástico se recolocar em outro país depois da maternidade, sem ajuda e sem familia perto. 

Tendo isso em mente, bora lá … 

Salários x Nursery/Creche/Escola

Eu já falei desse sentimento de “empobrecimento” nesse post aqui .Na Europa, não tem uma grande discrepância de classe social como no Brasil. Outro ponto é que as mulheres ganham menos. So sorry, feministas, eu adoraria não escrever isso mas “that is the fuc… way it is”. 

Em Londres e Amsterdam uma creche/nursery vai custar em média entre €/£1,600 a €/£2,000 por mês de segunda a sexta. Isso é um salário de uma mulher na Europa. Isso mesmo, Migs! 

Sendo assim, quando você muda com ZERO experiência no mercado Europeu, o seu salário será todinho para pagar a(s) escola(s). Parece surreal, né?

Vale a pena trocar 6 por meia dúzia? 

A Valentina e Vic foram na mesma nursery privada em Londres.  Pagávamos, na época, £1,100 para a Valentina. Para a Vic, aos seis meses, pagávamos £1,600. Continha básica, ou seja, pagávamos £2,700 de escolas para as duas. Migs, de acordo com o câmbio dava R$16,200 por mês de escolas. Pois é!!! 

Eu ganhava mais do que isso, em 2015, em Londres. Porém não muito mais do que isso. Não tenho vergonha nenhuma de falar (muito pelo contrário!), porque você precisa saber a realidade que ninguém conta. Saber, também, que não é puro glamour morar na Europa. E principalmente fazer seus cálculos sobre como viver com filho na Zoropa.

Pois bem, a conta era que praticamente TODO meu salário pagava as escolas das meninas. Clarooo que você vai perguntar: “mas e o marido?” Gentchy, é apenas um modo de dizer que eu pagava toda a escola, porque aqui em casa temos conta conjunta desde sempre.

A questão é se não seria melhor eu ficar em casa cuidando das duas e não trabalhar? Enfim, naquela época, eu me perguntava TODOS isso mesmo. Será?

Acordava 5:45 já esbaforida de tudo, entrava mais cedo e saia mais cedo (caso tivesse um ataque terrorista no metro eu ainda tinha um tempinho extra) para busca-las. Pensava em pedir demissão uma vez a cada estação de ano, mas no inverno piorava muito. Minha filha mais nova tinha crises fortes de asma de madrugada. Eu tinha ajuda 6h na semana, e uma rotina pesada durante a noite sozinha, porque meu marido deixava as duas na escola mais tarde pela manhã, assim voltava mais tarde para casa também.

SIM, vale!!!

Migs, hoje olhando para trás … eu estou há cinco anos na mesma empresa, e valeu MUITO a pena ter “doado” meu salário para a creche. Hoje, as minhas filhas estão com 4 e 7 anos.

Em 2019, finalmente consegui minha carreira de volta. Foi o melhor ano profissional da minha vida. Eu fechei a maior conta da história da empresa (trabalho em vendas de TI) e bati 210% da minha meta. Uhuuu!!!

Recebi essa notícia em mais um dia de caos da minha vida. Eu estava home office. Elas não tiveram aula. Já tinha visto se estavam com piolhos, sempre importante checar. Enfim, mortinha da silva. Quando eu recebi a ligação, chorei muuuuuito. Pulei muuuuito com minhas filhas também. Foi um dos dias mais felizes das minha vida!!! Pois é, para você felicidade deve significar outra coisa, mas para mim sempre foi minha familia em primeiro lugar e depois minha carreira. Por quê não? Sou mãe mas também estudei e ralei para chegar até aqui. Me passou um filme na cabeça, das 32 entrevistas que fiz para conseguir um emprego na área, e finalmente fechar essa conta. E eu nunca vou esquecer o dia 25 de outubro de 2019. Obrigada!

Vale a pena. Valeu a pena. Sempre vai valer a pena.

Migs expatriada, tenho certeza absoluta que você já deve ter ido em alguma entrevista que pagava pouco. Você queria um salário maior, claro. Nós sempre queremos mais, o que eu acho ótimo. Porém não aceitou porque era o mesmo valor para pagar a creche do filho. Eu escutei essa história dazamigas em todos os países que morei.

Também escutei e escuto diariamente que não é possível porque o marido viaja muito a trabalho ou chega tarde. Oi, prazer! Essa é minha vida e de muitas outras também. Meu marido chega tarde todos os dias, e viaja uma a duas semanas por mês. Eu simplesmente faço acontecer. Dou um jeito para dar certo, muitas vezes da muito errado e tudo bem.

O mundo perfeito do Brasil: familia morando perto, dinda que salva, empregada, babá e avós que ajudam. Rá!!! Ficou lá, Migs. Aceita que dói menos.

Aqui, do outro lado do mundo, pode ser um bom momento para tirar do papel aquele projeto de empreender, fazer um curso, enfim de fazer algo por e para você. Realmente, é mesmo surreal ter aquela vida insana do Brasil de trabalho aqui. Não da. O importante é encontrar um balanço. O que funciona para você, e principalmente para sua familia.

Nesse ponto, a Europa está super avançada. As mulheres podem trabalhar duas, três ou quatro vezes na semana – part time. Quando engravidam, isso não quer dizer férias, tá? Eu sai de licença maternidade no Brasil e tinha 12 pessoas na minha equipe. Quando voltei, tinha apenas uma porque eles pensavam que eu estava de férias. Pelo amor!

Crie metinhas, metas e metonas com deadlines. Senão a vida passa, marido fala que vamos mudar de novo, as kids crescem e não precisarão mais tanto de você como agora.

Eu acho que vale a pena trocar seis por meia dúzia, por experiência própria. Simplesmente porque não é uma troca eterna. Somente naquele momento que você está aprendendo sobre o mercado europeu, por exemplo, e se ajustando nessa nova vida.

Vale a pena ter experiência em um mercado internacional. Vale a pena aprender algo novo, como uma lingua. Vale a pena aprender sobre uma nova cultura no trabalho. Vale a pena sair de casa, colocar salto alto,  batom e partiu escritório. Vale a pena comer em paz na rua. Vale a pena ir ao banheiro sozinha (sem filhas). Vale a pena conversar nem que seja sobre a poha da chuva da Holanda, mas não sobre fraldas. Vale a pena pegar chuva, neve e passar perrengue chique para ir ao trabalho. Vale a pena ter uma vida sua, depois que você abre mão da sua carreira pela do marido, e muda de país. Vale a pena mesmo se seu sonho nunca foi ser rhycah, mas ganhar dinheiro é muito bom, obrigada.

Eu trabalho três dias da semana em casa e dois dias em Rotterdam. Meu chefe já falou algumas vezes que eu não preciso ir, se não quiser. Mas eu quero! Eu quero me arrumar, pegar o bus e trem, trabalhar e ter a minha vida. Muitas e muitas vezes a minha vontade foi colocada em segundo plano, porque primeiro vem minha familia, além de ter mudado de país várias vezes nos últimos anos.

Fácil é trabalhar fora, Migs.

Difícil é ficar em casa com as kids. Meldels!

Vou descansar no escritório.

Beijocas, Nati. 

 

 

Classe “merda” na Europa X Rhycah no Brasil? As pessoas são pessoas e não classes sociais.

Querida Migs expatriada,

morei em alguns países e sempre mantenho contato cazamigas brasileiras. Tenho váriosssss grupos de whats: Amigas da Nati Holanda, Madrid, Chile, London … e até no Canadá. Rá! Só fiz intercâmbio lá, mas apresentei umas amigas em comum. Eu ADORO apresentar azamigas; conectar as pessoas.

Tem um assunto que conversei diversas vezes cazamigas brasileiras de Londres e Holanda.

Classe “merda” na Europa X Rhycah no Brasil

Migs, na real, nem sei por onde começar. Se você é expatriada, vai me entender melhor. E se você mora na Europa vai sacar logo a real do rolê.

Bora lá …

Eu sei que o brasileiro pensa que vai para a Europa, arranjar um super trabalho e virar rhycoh. Oi? Sinto lhe informar mas na na ni na não.

Se você vier ilegal, vai batalhar muito em um trabalho aqui e outro acolá. Ganhar uma grana, não vai pagar impostos, e vai mandar uma grana para sua família. Aqui na Holanda, pode usar o sistema de saúde e escolas (o que eu sou super a favor!), e assim segue a vida nesse ciclo até onde for possível.

Se você/ seu marido recebeu uma oferta e quando você viu o valor em euros e fez a conversão, logo pensou que tinha ganhado na loteria. Ledo engano, Migs!

Ainda nesse sentido, eu acho o máximo quando falo que uma coisa custa 1000 euros, e a pessoa fala que é o mesmo do que 1000reais. Não, Migs! Jamais. Faça a conversão do dia. Sempre. Agora, se vier com aquele papo de quem converte não se diverte. Boa sorte! Depois vá correr atrás do rabo para pagar a conta do cartão de crédito do Eurosummer.

Migs, para tudo e rebobina a fita.

A desigualdade social no Brasil

Nós viemos de um país com MUITA desigualdade social. Tudo é muito discrepante. Não sei vocês sabem, mas apenas 1% da população ganha 50 mil reais (renda familiar). Migs, estamos falando de apenas 1% de 210 milhões de habitantes. Privilégios, cotas (sim, sou super a favor, por quê não?), bolha… ixi, posso ficar horas falando disso aqui.

Mesmo você tapando o sol com a peneira – como falam em Recife – essa é a realidade no Brasil. E aí que crescendo dentro desse sistema é muito difícil imaginar algo diferente.

Você faz mil cursos, faculdade, pós, MBA e etc. Trabalha, rala e vai “subindo” na vida para comprar o tão sonhado apartamento de varanda de coxinha, carrão (talvez blindado), sócia de clube, babá, empregada ou diarista, e escola privada-bilingue ou internacional (se for “milho”nária!).

Migs, não estou falando que isso é certo ou errado, não encare como uma crítica, porque cada um é livre para escolher e manter o padrão de vida que acha necessário, mas that is the way it is de viver na bolha.

Eu também já vivi na bolha e comprei apartamento de varanda de coxinha em SP há quase sete anos. A gente batalha para construir um castelo no Brasil e morar dentro dele, porque não é seguro lá fora.

Só que do outro lado do oceano não é assim que as coisas funcionam …

Você está disposta a mudar seu padrão e vida, e principalmente o mindset para morar na Europa?

Vamos começar colocando os pés no chão mesmo. Eu sempre falo isso, mas é a verdade. A Europa me fez colocar os pés no chão para tudo nessa vida.

Vou citar exemplos de classe “merrrda”, tá? Eu sei que é problema do tipo #forçaguerreira.

Se você mora em um apartamento de 3 ou 4 quartos no Brasil, vai morar em um apartamento na Europa de dois quartos e um banheiro. SIM, você vai dividir esse banheiro com sua família e inclusive com as visitas. Na Holanda, a maioria das casas tem a privada separada (em um quartinho mini) do banheiro (pia, banheira/ chuveiro) – já morei numa casa assim.  Imagino minhas amigas brasileiras lendo isso e achando surreal. Pois é!

Claro que tem apartamentos e casas maiores, mas em bairros mais afastados e tudo você terá que pesar na balança. Por exemplo, em Londres você paga mais caro em um aluguel para seu filho estudar numa escola pública excelente daquele bairro, uma vez que só pode estudar na escola pública próxima a sua casa. Então não faz diferença morar em uma casa de um banheiro se a prioridade é uma puta escola, entende?

O brasileiro é super mal acostumado. Sempre TEM alguém para fazer algo para você. Seja estacionar seu carro, fazer sua mão, limpar sua casa, passar sua roupa, ir ao mercado para você, fazer a festa dos seus filhos, limpar a bunda dos seus filhos no fds e etc.

Aqui na Europa o lema é FAÇA VOCÊ MESMO!

No Brasil, a pessoa compra carrão zero. Troca de carro frequentemente. Deixa eu te contar, eu tenho pouquíssimas amigas que tem carro na Holanda e em Londres. Em Madrid a maioria tem porque morávamos em um bairro fora do centro. Nós compramos em Londres um carro usado e em Madrid outro carro usado. Meu marido veio dirigindo de Madrid até Amsterdam, e seguimos com o mesmo carro sem previsão de trocar. Trocar para quê se está funcionando? No Chile, o carro custava 50% do valor do Brasil. Migs, carro é visto pela sua função como meio de locomoção.

Já falei em outros posts sobre o valor por hora da cleaner. Não tem como ter uma mensalista. Não da para pagar e não tem necessidade. Eu tenho uma cleaner (Thais querida!) seis horas na semana, e Migs, é MUITA coisa. Comecei com 3h por semana em Londres.

Migs, morar na Europa é descer o padrão de vida.

SIM, você vai ter uma sensação de “empobrecimento” porque “acha” que abriu mão de muita coisa, mas a verdade é que você está priorizando o que quer na sua vida. Está aprendendo e crescendo muito. E principalmente a vida como parte da sociedade.

Vivendo em uma sociedade justa na Europa.

Tenha apenas uma certeza quando se mudar para o lado de cá do oceano: você vai passar perrengue chique!

E eu estou falando de Europa, ok? Porque nos EUA tem carrão, mansão, ketchup enorme, embalagem giga, muitos cupons, TJ MAX onde 1+7 +8 é igual a USD100,00, estacionamento enormes, escolas públicas excelentes, sistema de saúde público uóóó de caríssimo, férias de 15 dias ao ano (se possível!), licença maternidade de 1 mês (armaria!) e para fechar uma garagem para encher de compras e coisas que você não precisa. O Brasil se espelha muito nesse american way of life.

Agora, voltando para a Europa …

O primeiro baque, Migs, é que você e seu marido vão trabalhar muito e não terão uma vida luxuosa. O salário anual pode ser de seis dígitos, mas o luxo passou longe; bem longe.

Tenha consciência disso.

Uma visita, quando morávamos em UK, disse que preferia ser rhycoh no Brasil do que morar na Europa sem ajuda. Valores, né? Cada um tem o seu.

É uma vida super hands on. Por exemplo, a Ikea – sua nova BFF. Uma mistura de amor e ódio forever.  Você vai sair da loja com as compritchas e montar; pelo menos tentar montar sozinha em casa. Nesse mesmo armário de IKEA, você vai enfiar seu “guarda-roupa cápsula” – nome chique para só tenho e cabe isso mesmo.

Você vai limpar sua casa, porque simplesmente todo mundo faz e a mão não cai por isso.

Você vai buscar meios de economizar simplesmente porque prefere gastar numa viagem bacana.

Você vai se moldando do jeito que dá e até onde dá. Já falei nesse post aqui sobre Trying to fit in.

Você vai sair para jantar uma vez ao mês chique com o maridón de metro ou bus. Vão voltar correndo antes das 23h para a babá poder ir embora a tempo de pegar o metro.

Você vai fazer a mão e pé em casa porque pagar €45/60 dói demais.

Você não vai fazer festa de casamento, ops infantil, megalomaníaca.

Você não vai comprar 122mil sapatos com frequência, simplesmente porque isso não faz mais sentido na vida. Deixou de ser prioridade!

Você vai desapegar de muitas coisas.

Você vai desapegar de pessoas que não pensam como você, e não estão na mesma vibe. Tudo bem também e isso faz bem!

Você vai aprender e crescer muito. Na diversidade, a gente aprende, cresce e brilha.

Você vai ser mais justa com o mundo. Tenho certeza!

Você vai gerar menos lixo. Oba!

Você vai andar na rua sem medo que alguém possa te matar na esquina.

Você vai conviver com pessoas do mundo inteiro, de diferentes religiões também.

Você aprende a ter mais empatia.

Você não vai ser rhycah/ “milho”nária como no Brasil, mas vai ser feliz e leve!

Você aprende a ser mais “Poliana” (ver tudo cor de rosa e sem maldades), do que “Gabriela” (nasci assim e vou morrer assim) – Te Ganem, essa é para você!

Migs, pense bem em tudo isso antes de mudar. É um caminho sem volta. Depois que você muda esse mindset, com certeza vai se ver livre de muita coisa que a sociedade considera importante.

Prioridades! 🙂

 

 

 

Sobre o câncer infantil.

Querida Migs expatriada,

primeiro corre lá e pega um lencinho. Eu também vou pegar um. Já faz um tempo que tento escrever esse post, mas não consigo terminar porque não paro de chorar. Volta e senta que lá vem história …

A maior virtude que minha mãe me ensinou é que temos que ajudar sempre. Cresci vendo minha mãe, meus avós e toda minha família ajudando. Isso fazia tão parte de mim que o meu sonho era ser Assistente Social. Fiz até teste vocacional e deu isso no resultado. Migs, mas vamos combinar que não é novidade para ninguém que eu quero ser rhycah (desde sempre) para viajar o mundo e ajudar muito. Infelizmente com o salário de assistente social no Brasil não iria rolar.

Enfim, resolvi seguir outra carreira. Porém o sonho de ajudar nunca saiu de mim. Trabalhei como voluntária desde novinha. Já trabalhei na escolinha de apoio da igreja, comecei com 15 anos duas vezes por semana durante a tarde. Também em orfanato, eu ía ler para as crianças. Um dia não consegui ir e pedi para minha mãe ir no meu lugar, ela não sabia o que fazer porque as crianças brigavam e se batiam  (fodástico). Até que  finalmente com crianças com câncer. Sempre com crianças.

Eu sou católica, mas gosto de tomar passe em centro espírita (pois é!). Um dia, no passe, um amigo falou de uma casa de apoio para crianças com câncer (por sinal, ele já faleceu e serei eternamente grata por ter me apresentado esse lugar especial). Crianças de diversos estados vinham para São Paulo para fazer o tratamento, e ficavam hospedadas nessa casa de apoio.

Lá fui eu conhecer essa casa de apoio, quando eu tinha 22 anos, e foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido na minha vida.

Casa Assistencial Maria Helena Paulina.

Migs, primeiro anota tudo aí. Tira print.

Meu amor pela Casa Maria Helena

Migs, eu ía na casa todos domingos, faça chuva ou sol. Era um projeto pessoal. Eu não sou aquela chata que enchia o saco da galera para ajudar ou visitar a casa comigo, porque a realidade é que muitas pessoas não conseguem ver e não sabem lidar com isso. Tudo bem, também. Eu, por exemplo, sempre trabalhei como voluntária com crianças mas não consigo trabalhar com idosos porque choro sem parar. Cada um sabe onde o sapato aperta.

Frequentei a casa muitos anos, casei, tive filha, mudei de país … aliás países, outra filha e infelizmente hoje não posso ajudar pessoalmente somente financeiramente.

Tenho lembranças lindas daquela época.

Infelizmente quase todas as crianças daquela época faleceram. Uma tristeza sem fim.

Eu tinha várias paixões.

Fernandito

Ele era do Paraguai. Tinha leucemia.

Minha mãe ía comigo na casa para conversar com a mãe dele, em espanhol. Ela engravidou para que o filho fosse compatível com o Fernandito.

Ele ía fazer 6 aninhos. Amava o Mickey. Uma amiga querida, Thays Maluf (aliás, Miga, meu muito, muito e muito obrigada sempre por todas as doações para a casa) comprou uma festinha toda do Mickey para ele. TODA! Até o canudo tinha as orelhinhas. Coisa mais fofa.

Combinamos de fazer a festinha no domingo, quando ele saísse do hospital e seria o dia do aniversário dele.

Ele faleceu na sexta-feira.

Não deu tempo dele ter uma simples festa de aniversário. Não deu tempo do irmão nascer para ajudá-lo. Não deu tempo dele ter uma infância como qualquer outra criança.

Minha mãe ficou de cama, Migs. Ela chorou sem parar uma semana.

Natália, minha xará.

A Nati morava na casa com a avó. Ia e vinha do Maranhão.

Ela tinha leucemia desde os 3 anos.

Uma fofa. Super querida. Muito vaidosa. Linda.

Já foi na minha casa. Já passeamos juntas.

Não posso negar, era minha criança predileta na casa e faleceu com 12 anos.

Eu não consigo escrever mais sobre ela porque não paro de chorar.

Muitas e muitas crianças

Muitas crianças já passaram pela casa.

Quando conheci a Paulinha, ela já estava no estágio avançado do câncer e usava cadeira de rodas. Ela tinha câncer de pele. Já não tinha grande parte do nariz e a pele era toda manchada.

Já vi câncer osseo em uma menina linda que não podia andar porque as pernas eram tortas.

Já vi tumor na cabeça tão grande que a criança perdeu a visão, movimentos e por aí vai.

Já vi tumor no queixo.

Já vi diferentes tipos de câncer, mas o mais importante é que eu vi muito amor. Muito amor mesmo.

Amor incondicional

Migs, na maioria dos casos, a mãe deixa outros filhos na cidade natal e vai com esse único filho fazer tratamento em São Paulo por meses, anos e até sei lá quando.

Dorme sentada por dias na cadeira ao lado da maca. Vai e volta de ônibus para os hospitais, como AC Camargo e Clínicas.

Tem amor maior do que esse?

Agradecimento

Migs, todo Natal eu arrecadava dinheiro ou presentes para a Ceia. Imagina a tristeza de passar longe da sua família, com a criança em tratamento e muitas vezes sem dinheiro para comprar nada.

Muito obrigada a todas minhas amigas, amigos e amigos dos amigos que ajudaram.

Meu marido trabalhava na Ambev, na época, e conseguiu um portão novo para a casa.

Minha madrinha, Luiza, mandava presentes. Vivi, Pata e a Maluf sempre mandavam doações. Cleir já doou muitos presentes no Natal. E muitos outros amigos ajudavam financeiramente.

Como ajudar

Você deve estar lendo isso e querendo saber como pode ajudar.

Ai como eu amo pessoas com coração bom e grande. Muito obrigada de coração.

Seja voluntário

Migs, entre em contato com a casa para agendar uma visita.

Lista de Necessidades

Atualmente, a casa precisa:

  • Café;
  • Água sanitária;
  • Desinfetante;
  • Sacos para lixo (100l);
  • Amaciante.

Segue a lista atualizada de necessidades aqui.

Ajuda financeira

Seguem os dados das contas bancárias:

Depósito Bancário
CNPJ: 69.107.142/0001-59
Banco: Itaú
Agência :0062
C/c : 35.926-0
Banco: Bradesco
Agência :0516
C/c : 70.758-9
Banco: Brasil
Agência :3050-3
C/c : 2004-4

Doações

Se você tiver doações, entre em contato com a Renata nos telefones   11 3744-7492 / 3772-5661 para combinar a retirada.

Qualquer tipo de doação.

Bazar

Tem uma lojinha na casa com as roupas e objetos das doações.

Fotos

 

 

 

Sobre empatia nessa vida expatriada: “my one person”.

Querida Migs expatriada, 

estou nessa vida expatriada, mudando para lá e para cá, há seis anos e meio (para quem não me conhece). 

Sempre quando as coisas vão “muito bem, obrigada” em algum país, vem meu marido e fala que vamos mudar novamente. E só quem já passou por isso, sabe exatamente a sensação, de tudo junto e misturado, que é começar do zero em um novo país. 

Migs expatriada, por favor, leia esse textão: 

Am I invisible? One mom’s pain-relieving response to being excluded

Parte do texto: 

Remember this.

“Remember this when you are in familiar territory and someone new walks up looking for guidance.

Remember this when you see someone on the outskirts anxiously holding her own hand.

Remember this when someone approaches you and asks a question – see the bravery behind the words.

Remember this when you see someone stop trying – perhaps he’s been rejected one too many times.

Remember this when you see someone being excluded or alienated – just one friendly person can relieve the painful sense of feeling invisible.
Remember the deepest desire of the human heart is to belong … to be welcomed … to know you are seen and worthy of kindness.”

My one person. ❤️

Parte do texto: 

“I just hope I am not the only new kid in my class,” my older daughter said looking out the window. “I hope there is just one other new person.”

After a long pause, she repeated, “Just one.”

That had been my solitary prayer in the months leading up to the move … just one friend … just one kind friend for each of my girls. 

One person can instantly make you feel unalone, uninvisible … like you belong.

One person can do that.

One person can take away months of angst in an instant.

With one invitation, we can take someone 

From outsider to insider 

From outcast to beloved member 

From unknown neighbor to coffee companion 

From wallflower to life-of-the-party”.

Mês passado conheci a Fê, brasileira que morava em Singapura. Ela tinha acabado de chegar com a filha (querida!) e marido. Foi ela quem me mandou esse textão e falou que eu era a my one person ❤️ dela. Eu sou chorona mesmo (e daí?), e claro que fiquei emocionada e agradecida. 

Eu lembrei de todas as minhas my one person ❤️ nos países que morei. 

Um agradecimento especial para todas as minhas: My one person. ❤️

Em Santiago, Chile, a Celina Ferrari foi a minha. É minha amigona querida para sempre. Ela já morava no Chile, quando cheguei, e além de uma filha da mesma idade, tínhamos muitas coisas em comum. Ela me recebeu de coração aberto, me ensinou muito e ainda me faz rir todos os dias. Seja no insta, no zap, na vida virtual e real. Obrigada, Migs. 

Em Londres, a Paula Marquez foi a minha. Eu entrei em um grupo do facebook de mães brasileiras em Londres, e escrevi na caruda se alguém queria ser minha amiga, morava em Ealing e tinha uma filha de 1,5 ano. Migs, a Paulinha respondeu, marcamos no parque no dia seguinte e a noite ela me chamou e o Thiago para ver o jogo do Brasil na casa dela. Não tínhamos TV ainda. Existe coração maior do que esse? Desde esse dia, ela sempre foi e será minha BFF de Londres. 

Em Madrid, a Alessandra Moraes foi a minha. Uma amiga em comum nos apresentou. Ela foi em casa e me apresentou o mundo. Tudinho de Madrid e várias amigas. Se não fosse por ela, eu não teria tido as amigas maravilhosas da Espanha. Obrigada por tanto, Ale! 

Em Amsterdam, a Joana Barroso foi a minha. Ela foi tão my one person que a chamo de Crush. Uma querida! No dia que eu cheguei, tive que fazer o RG em outra cidade, deu tudo errado, errei o trem várias vezes, e na volta ela tinha marcado um café cazamigas e me chamou. Que carinho no coração. Muito obrigada mesmo, Crush! 

Seja a my one person de alguém ❤️

Se tem uma coisa que eu tenho certeza é que SIM, eu tenho prazer em ajudar! Muito mesmo. Eu não criei esse blog para ser blogueirany, não aceito coisas de graça, e não tenho intenção de ganhar dinheiro com isso. Eu escrevo aqui, porque quero ajudar as expatriadas pelo mundo. 

Eu faço questão de gastar o que eu tenho de mais precioso no mundo – meu tempo – com uma pessoa que chega em um novo país. 

Tem também o outro lado da história, claro. Eu mega ajudo, apresento mil amigas e a pessoa se ajeita na nova vida. Eu chamo para mil coisas e não me chama para um café na esquina. Migs, se eu fico chateada? Claro! Mas como  a autora fala: “Regardless of how anyone treats you, you stand to benefit. While some people teach you who you do want to be, others teach you who you don’t want to be. And it’s the people who teach you who you don’t want to be that provide some of the most lasting and memorable lessons on social graces, human dignity, and the importance of acting with integrity.” Fica a dica, né? 😉

Uma amiga de infância, Dani, que mora em Londres. Ela fala que eu sou a pessoa mais acolhedora que ela conhece. Eu abro a porta da minha casa (literalmente), da minha vida. Eu dou a mesma chance para todo mundo. O que a pessoa vai fazer com essa chance, é problema dela. 

Sobre empatia ✌🏽

Migs, se você conheceu alguém que acabou de chegar. Ajude. Se coloque no lugar daquela pessoa, ela viveu uma vida toda em outro país, deixou tudo para trás e está começando do zero. É fodástico! Um sorriso. Uma ajuda. Um “oi, tudo bem?” na nossa língua muda o dia, muda a nova vida. 

Tenha empatia. Ensine isso para seus filhos, também. Minhas filhas mudaram várias vezes de escola. E acalma meu coração quando elas falam de uma nova amiga. Meu muito obrigada a essas mães maravilhosas que passam isso para seus filhos. 

Se você está de mudança para algum país que morei, me manda mensagem no @expatriadaporamor que eu te ajudo, tá? Conta comigo!