Querida amiga expatriada,
quando a pessoa olha uma linda foto no insta da amiga expatriada, sempre pensa: “Fulana está com a vida feita por lá”.
Rá! Se fosse fácil assim …
Descubra aqui como é morar em Londres! Dicas de quem já esteve por lá ;)
Querida amiga expatriada,
quando a pessoa olha uma linda foto no insta da amiga expatriada, sempre pensa: “Fulana está com a vida feita por lá”.
Rá! Se fosse fácil assim …
Querida amiga expatriada,
bem na semana do dia da mulher, eu passei por 122mil mixed feelings.
Vou começar por essa pesquisa da Mckinsey: Women in the Workplace 2020. Leiam! Compartilhem! Tirem print!
No google isso quer dizer: The term was first popularized in the 80s to describe the challenges women face when their careers stagnate at middle-management roles, preventing them from achieving higher leadership or executive roles.
Esse glass ceiling deu uma quebrada desde 2015, como mostra a pesquisa da McKinsey, mas veio a pandemia e o mundo virou ao avesso. Pior, as mulheres estão levando o mundo nas costas, sem escolha alguma!
Esse gráfico mostra, detalhadamente, o que estamos vivendo, como mulheres:
E muito mais, como: várias mulheres perderam o emprego, trocaram de área, mãe solo faz como, e todo aquele rolê que sabemos bem porque vivemos diariamente. Umas com mais privilégios e outras como menos privilégios.
Aqui tem outro vídeo, sobre o mesmo assunto, da maravilhosa da VP dos EUA, Kamala Harris.
Quando eu era xxxóven, eu sempre respondia aquela típica pergunta de RH, da época, que casaria aos 30 anos, teria filhos e aos 40 anos eu queria trabalhar para uma empresa de TI gerenciando o mercado da América Latina.
E aí?
Aí que esse ano, em maio, vou fazer 40 anos.
Sem plásticas, mas com botox na testa, claro. Com duas filhas saudáveis. Sem três órgãos do corpo, mas me livrei de 11 tumores (amém!). Com um marido ma-ra-vi-lho-so que me apoia sempre. Sem morar no Brasil, mas com uma vida expatriada recheada de experiências maravilhosas. Sem o tão sonhado emprego na América Latina, mas com o mercado de NEMEA (Europa Norte, Oriente Médio e África). Ou seja, MUITO melhor no meu ponto de vista (porque não faço e nem sigo planos).
E, você?
Algumas pessoas acham que o dream job é o salário anual acima dos três dígitos. Outras é o cargo XPTOPQPKCT. Eu acho que essa figura acima, enviada no meu grupo de zap por uma amiga, é o perfeito resumo do Dream Job.
E na pandemia, muita coisa mudou. Quem pode sentar a bunda na cadeira e trabalhar 12horas por dia com os filhos em casa? Hello! E mesmo quem não tem filhos, isso não é vida.
Primeiramente, eu cresci em uma família que minha mãe sempre ganhou mais do que meu pai. A dona do rolê AND da poha toda. Tenho MUITO orgulho dela por isso!
Antes de casar, eu só pensava na carreira 122mil%. Thiago me ensinou muitas coisas, mas a melhor dela foi slow down e pensar, também, na qualidade de vida. E hoje, aos quase 40 anos, é meu foco principal. Por outro lado, eu amo dinheiro, gosto de comprar minhas bolsinhas, quero ficar rhycah para viajar o mundo e ajudar quem precisa.
O meu sonho de anos atrás não é o mesmo de hoje. Muitas coisas que eu queria naquela época, eu já conquistei e até mais. E isso não é somente sobre a minha idade, mas também sobre a idade das minhas filhas, 5 e 8 anos. Elas ainda precisam muito de mim. Não temos família perto, e gostaria de criá-las com os pais super-mega-ultra presentes.
Eu chorei. Pensei. Fiquei sem dormir. Falei com várias amigas e amigos. Perguntei. Concordei. Não concordei.
Conversei com Thiago. Conversei com minha mãe. Eu sei que eles apoiariam qualquer decisão minha.
Pois é, você deve pensar que sou doida porque era o dream job da vida dela! Pqp! E agora?
Na verdade, era a minha dream company da vida. Eu queria MUITO trabalhar nessa empresa (ainda quero!), mas o dream job, no fundo, eu já tenho. Simplesmente, porque mesmo tendo outras opções eu decidir ficar. Fico porque a minha situação atual preenche todas os requisitos que eu queria para minha vida hoje. Eu faço um puta milagre em trabalhar full time, ultrapassar as metas de vendas todos anos, fazer 122mil serviços domésticos em casa e criar as meninas.
Quando eu fiz 15 anos, minha mãe perguntou se eu queria uma festa. Eu pedi uma viagem para a Europa (sim, tenho super noção dos meus privilégios). Meu sonho, na época! E viemos para Portugal e Espanha por 45 dias. Lembro que meus pais alugaram um carro, mapa de papel, e eu trouxe fitas com músicas (millennium geração chora!). Rodamos os dois países de norte a sul, leste ao oeste. Desde então, quando eu juntava um pouco mais de dinheiro era para gastar nas viagens para a Europa.
Cada um tem suas prioridades, a minha sempre foi viajar AND atualmente pagar a escola privada das nossas filhas.
Confesso que nunca imaginei minha vida morando aqui, na Europa. Até porque eu nunca me imaginei morando fora do Brasil para sempre. E hoje, não imagino voltar para o Brasil com a familia.
Quando mudamos para aqui, há 7 anos, eu me encontrei no mundo. Sabe aquele rolê de pertencimento? Então aqui é onde eu quero criar minhas filhas.
Morar aqui não me faz cega. Tem dias e dias.
O vento da poha que entra no útero. A chuva sem parar que molha até a calcinha (juro, entendedores entenderão!). O frio de outubro a abril com milhares de camadas de casacos. O rolê do transporte público. Andar de bike é lindo, mas não na chuva e com as compras do mercado rolando pelo chão. Sair para jantar com o marido, vamos gastar uns 40/50 euros somente de babá. A falta de familia perto para um colo nos dias tristes. Isso, realmente, intensificou demais no meio de uma pandemia. Enfim, o conforto padrão e a varanda gourmet da classe meeerrrdia brasileira não tem aqui.
Uma vez minha filha mais velha, com 5 anos, na época, ficou presa do lado de dentro do metrô, e eu do lado de fora. Desesperador. Quando contei para uma amiga que mora no Brasil, ela disse que pelo menos era um vagão de metrô na Europa. Gente, não isso não é OK, tá? Outra vez minha filha teve uma convulsão. Aconteceu a mesma coisa: “Ahhh pelo menos foi na Europa’.
Quiiiiirida, a vida aqui não é a oitava maravilha do mundo!
Não é porque eu moro na Europa que não tenho problemas. Claro, eu não tenho, de muuuito longe, os mesmos problemas do Brasil como segurança, porém temos outros tipos de perrengues que também são difíceis. A minha dor não apaga a sua dor. Vice-versa. Cada um sabe onde o sapato aperta.
Se você está chateada, porque sua babá não faz brincadeiras educativas com seu filho. Aqui, eu nunca conheci alguém que tivesse babá mensalista. Não tem Tio, Tia, Madrinha e Avós para ficarem com as crianças. Enfim, tudo isso pesa na balança.
Se você escolheu mudar, saiba que vai passar perrengue atrás de perrengue.
Coisas que você achava simples, tipo o lixo. Aqui é uma aula de mestrado até entender onde vai cada lixo. Imagina juntar lixo de papel 1 mês em casa.
Estilo Jumanji. Tem níveis de perrengue. Quando conheço alguém que acabou de chegar, eu já tenho vontade de abraçar porque já sei que rolaram lágrimas semanais de tudo junto e misturado.
E a Ikea? Aquela relação de amor e ódio. Comprei em todos países, e by the way preciso passar lá essa semana para comprar uma prateleira de livros. A gente quer uma coisa melhor, mas aí pensa viajar X móvel da Ikea? Só em 2021, quando eu completar 8 anos fora do Brasil que eu vou ter meu primeiro sofá phynah, mas o tapete segue Ikea.
Acho que o pior de todos perrengues mesmo é conseguir emprego. PQP! Nível 122mil na escala de dificuldade. Esqueça seu MBA e pós na melhor Universidade do Brasil. Não vai rolar, porque não tem experiência de trabalho aqui. Vai rolar depois que você ralar em várias entrevistas, e piora ainda em países como Holanda, Alemanha e outros que dependem da língua local. Eu acho muito engraçado essa auto estima brasileira de achar que trabalha muito. Deixa eu te contar, a gente enrola muuuito no escritório no Brasil, porque ficar até ás 21h não é sinônimo de produtividade. As pessoas acham que é só chegar aqui e conseguir emprego. É fodástico!
Depois de tudo isso e mais um pouco, os meus valores de vida e família são muito maiores do que a saudade, entende? Eu consigo conviver com a saudade, mas eu não consigo mais conviver com jeitinho brasileiro, com a falta de segurança e etc.
Depende muito de como você vem, mas o saldo é sempre positivo se você levar para o viés de se tornar uma pessoa melhor para o mundo.
Conheci pessoas que venderam tudo, e vieram com duas malas e muuuuita garra. Conheci pessoas que vieram com todo o rolê pago: aluguel, carro, escola e passagem para o Brasil. Conheci pessoas que vieram em familia e um contrato de trabalho local. Conheci pessoas que vieram ilegais.
Enfim, existem 122mil possibilidades, mas o fato que liga todo mundo é essa infinita corda bamba entre saudade e a vontade de ficar.
Cada um é diferente. Cada um tem uma bagagem diferente.
Eu sou uma pessoa zero planejamento, só planejo viagens. E nesse caso, todo mês de janeiro eu já pago todas as viagens do ano para casar a minha agenda de férias do trabalho, com a do Thiago e a escola das meninas (coronavírus uooo!). Porém, antes de mudar e também morando aqui, considero essencial fazer essas perguntas para você não perder sua essência:
Isso é MUITO importante.
A maioria das expatriadas muda como partner (acompanhar o companheiro). Vice-versa. Alguns homens também vem acompanhar a esposa, mas em menores casos.
Você precisa sentar e conversar, claramente, sobre o rolê financeiro.
Quem é você na fila do pão de não gerar uma renda? O parceiro reclama dos gastos? O parceiro deixa gastar sem limite?
Enfim, cada relacionamento é diferente.
Eu confesso que para mim foi muuuuuito difícil na minha primeira mudança para Santiago, Chile. Eu fiquei 10 meses sem trabalhar. Não pelo meu marido, mas por mim, porque eu me cobrava demais.
Não pode ser tabu.
Você precisa entender que o dinheiro é da família. Seu marido também precisa entender isso.
Ele só está onde está porque tem alguém (você!) cuidando dos filhos, escola, casa, comida, roupas e burocracias do dia a dia. Simples assim. Sogras, reconheçam e agradeçam as belas noras expatriadas! Não é qualquer mulher que abre mão da vida, família e carreira para viver o sonho do marido.
Por exemplo, para mim é inegociável não trabalhar.
Eu só vou mudar para um país que eu tenha um visto de trabalho e que eu possa buscar um emprego. Não funciona na minha vida, e consequentemente para minha familia, porque eu estaria infeliz não trabalhar. Happy Wife. Happy Family.
E para você, o que é inegociável?
Eu não mudei do Brasil para ter menos do que eu tenho no Brasil. Não em termos financeiros (certeza que você já pensou nisso!), mas em qualidade de vida.
Hoje, na Holanda, eu tenho a MELHOR qualidade de vida de todos países que morei. O meu limite é esse. Menos qualidade de vida, eu não aceito mudar de país. Juntando isso com minha idade, 39 anos, quero mais é qualidade de vida do que “ter”.
Eu também queria trabalhar na mesma área (TI) que eu trabalhava no Brasil, mesmo se eu precisasse dar uns passos para trás, mas não em outra área.
E para você, qual é o seu custe o que custar?
Tenha sempre um limite. Porque o limite é você que impõe, não o outro ou a sociedade. É importante saber até onde você consegue ir e quando parar. Não aceite nada menos do que isso.
Querida Migs expatriada,
eu nasci em São Paulo. Vivi quase a minha vida toda no mesmo apartamento em Pinheiros/ Vila Madalena (amo esse bairro!). Até que eu conheci o Thiago. Ele estava no último ano do MBA, em Michigan. E eu estava cursando MBA na FGV. Nós namoramos a distância durante um ano. Nos viamos em alguma cidade pelo mundo, como Trancoso, São Paulo, Recife, Las Vegas, Ann Arbor, Chicago … era maravilhoso, e ainda é!
Ele estava entrevistando para vagas em diversos países, até que acabou escolhendo trabalhar em São Paulo. Fomos morar juntos – pecadora e amigada feelings! – com o casamento marcado para o ano seguinte (2011).
Migs, e aí? Aí que eu nunca mudei de casa na vida, comecei a mudar naquela época e não parei mais.
Nos últimos sete anos moramos em cinco países: Sao Paulo (Brasil), Santiago (Chile), Londres (UK), Madrid (Espanha) e Amsterdam (Holanda). Foram sete casas e muitos flats, quando ainda não tínhamos casa, com duas filhas. Sempre levamos toda a mudança no container. Tá! Já posso imaginar a sua cara de “Miga, sua Loka!”.
Acho engraçado quando posto que vou me mudar. E sempre alguém pergunta admirado: Noooossa, mas o que aconteceu? Oxe, como se fosse algo ruim!
Deixa eu te contar, mudar não é um problema para mim. Eu gosto.
Sabe aquele sonho de escolher papel de parede, reformar a cozinha e escolher os azulejos do banheiro? Então, não é o meu sonho. Sonho, cada um tem o seu.
Por outro lado, eu já coloco todos os quadros na parede logo na primeira semana (sou apaixonada por arte!), mesmo meu marido odiando furar parede, porque isso me faz sentir em casa.
Migs, lembra quando seu marido falou: nós vamos mudar de país. E aí passa um filme na sua cabeça sobre o que eu fazer com a casa. Então, já passei por isso também. Tínhamos acabado de comprar o apartamento dos sonhos em Sampa, e no mês seguinte resolvemos mudar para o Chile. E foi a melhor coisa que aconteceu nas nossas vidas!
A única coisa que eu falo e repito é praticar o desapego nessa vida expatriada.
Migs, sempre vai ter o trade off. Isso é fato.
A partir do momento da sua decisão em deixar país, você terá que abrir mão de muitas coisas, e vai ganhar tantas outras também.
Já conheci expatriadas que resolveram deixar a casa montada, mas fechada no Brasil. Ops, você também? Migs, como é que a nova vida vai dar certo? Como é que você vai virar a página, e escrever uma nova história se ainda está na página anterior? A conta não fecha, principalmente a financeira. Aluga. Vende. Doa. Faça qualquer coisa desde que seja para frente, pensando no futuro.
Algumas perguntam: e se não der certo? Ahhh você faz algo na vida já pensando que não vai dar certo? Casa já pensando em separar? Claro que não.
Não precisa ser mega desapegada, como eu, nesse lance de fechar a porta e tchau. O importante é fechar um ciclo para começar outro.
Sempre. Sempre. Sempre em toda roda expatriada rola uma discussão se é melhor morar no Brasil ou Amsterdam, Londres, Madrid, USA, China, PQP e etc. Algumas preferem nitidamente o Brasil e outras qualquer outro lugar no mundo que não seja o Brasil.
Até que alguém fala da família, nossa cultura, infância … isso quebra as pernas, claro. Vamos comparar banana com banana? Nem isso da para comparar direito porque aqui, em Amsterdam, só tem um tipo de banana sendo que no Brasil tem milhares.
Migs, é claro que se você pensar na familia, amigos de uma vida toda, comida, sol … o Brasil sempre será muito melhor do que qualquer lugar do mundo.
Se você escolheu morar fora, faça desse lugar a sua casa.
Arrume, em primeiro lugar, a sua casa com tudo o que gosta. Tá sem grana? Tem site de coisas usadas e lojas baratex. Decore com adoráveis inutilidades de viagens ou do Brasil, para matar as saudades. Isso vai te fazer se sentir em casa. Fotos de familiares e amigos. Lembranças de momentos especiais.
E sabe o que fazer com a saudade? Compra uma cômoda da Ikea – certeza que você tem uma se mora na Europa – e enfia a saudade na gaveta até a próxima ida ao Brasil.
Se você não consegue se adaptar ao novo país. Tente pelo menos por seus filhos. Fale claramente e quantas vezes puder que essa é a casa de vocês. É difícil para nossa cabeça, imagina para nossas crianças? Por exemplo, as minhas filhas choram quando voltamos das férias no Brasil, mas elas nunca me perguntaram ou pediram para morar lá. Simplesmente, porque eu deixo bem claro que a nossa casa é aqui. Não quer dizer que eu não quero que elas morem lá um dia, mas elas precisam crescer e entender que nós moramos em outro local.
Em Madrid moramos apenas seis meses, mas a casa estava montada, todo mundo super adaptado, falando espanhol também, conheci amigas para uma vida toda, fiz 122mil coisas, viajamos muito e comemos todos os solomillos e croquetes possíveis até partirmos.
Não precisa me perguntar se prefiro o Brasil ou a Holanda.
Não precisa me perguntar quando vou mudar novamente.
Não precisa me perguntar onde vou morar o resto da vida.
Não precisa me perguntar até quando vou ficar por aqui.
Nós estamos felizes aqui, em hAMSTERDAM na chuvOLANDA. Isso é o que importa. Aqui é a nossa casa!
E se tiver que mudar de novo, está tudo bem também. Porque afinal o mundo é muito grande para ficarmos no mesmo lugar. ❤
Eu amo essa música e resume tudo isso.
Querida Migs expatriada,
Conversa vai e conversa vem. E eu sempre vou voltar no assunto carreira x maternidade.
No blog tem vários posts, como esses:
Mãe expatriada X Carreira internacional
Sobre conseguir emprego na Europa
Oi, muito prazer. Essa sou eu no Brasil.
Migs, eu morava rhycah-plenah-phynah nos Jardins, em São Paulo, quando a Valentina nasceu. Entre as mamadas passeava na Oscar Freire, ela dormia tranquilamente no carrinho. Depois mudamos para um apto coxinha-varanda-gourmet com brinquedoteca, piscinas e 122mil salões de festas. Minha mãe e meu sogro moravam perto e sempre nos ajudavam. Eu ía a pé ao trabalho, e Thiago trabalhava no Itaim. Eita vida boa na bolha paulistana.
Quando a Valentina fez seis meses, tínhamos acabado de comprar um apartamento, e mesmo assim enfiamos a casa em um caminhão (container), vendemos carro, moto e fomos para o Chile.
Nesse momento acordei para a vida! O clique, sabe? Quem já passou, sabe bem o que estou dizendo. Acordei da vida dopada de Cinderela.
Eu não tenho a menor ideia do que é ser mãe no Brasil. Atualmente, as minhas filhas tem 4 e 7 anos de idade e toda a vida delas moramos fora do Brasil.
Migs, se você é mãe, e está chegando agora na Zoropa, se já mora por aqui ou pensa em mudar para esses lados, saiba de duas coisas:
1. Vai passar perrengue chique
2. É fodástico se recolocar em outro país depois da maternidade, sem ajuda e sem familia perto.
Tendo isso em mente, bora lá …
Eu já falei desse sentimento de “empobrecimento” nesse post aqui .Na Europa, não tem uma grande discrepância de classe social como no Brasil. Outro ponto é que as mulheres ganham menos. So sorry, feministas, eu adoraria não escrever isso mas “that is the fuc… way it is”.
Em Londres e Amsterdam uma creche/nursery vai custar em média entre €/£1,600 a €/£2,000 por mês de segunda a sexta. Isso é um salário de uma mulher na Europa. Isso mesmo, Migs!
Sendo assim, quando você muda com ZERO experiência no mercado Europeu, o seu salário será todinho para pagar a(s) escola(s). Parece surreal, né?
A Valentina e Vic foram na mesma nursery privada em Londres. Pagávamos, na época, £1,100 para a Valentina. Para a Vic, aos seis meses, pagávamos £1,600. Continha básica, ou seja, pagávamos £2,700 de escolas para as duas. Migs, de acordo com o câmbio dava R$16,200 por mês de escolas. Pois é!!!
Eu ganhava mais do que isso, em 2015, em Londres. Porém não muito mais do que isso. Não tenho vergonha nenhuma de falar (muito pelo contrário!), porque você precisa saber a realidade que ninguém conta. Saber, também, que não é puro glamour morar na Europa. E principalmente fazer seus cálculos sobre como viver com filho na Zoropa.
Pois bem, a conta era que praticamente TODO meu salário pagava as escolas das meninas. Clarooo que você vai perguntar: “mas e o marido?” Gentchy, é apenas um modo de dizer que eu pagava toda a escola, porque aqui em casa temos conta conjunta desde sempre.
A questão é se não seria melhor eu ficar em casa cuidando das duas e não trabalhar? Enfim, naquela época, eu me perguntava TODOS isso mesmo. Será?
Acordava 5:45 já esbaforida de tudo, entrava mais cedo e saia mais cedo (caso tivesse um ataque terrorista no metro eu ainda tinha um tempinho extra) para busca-las. Pensava em pedir demissão uma vez a cada estação de ano, mas no inverno piorava muito. Minha filha mais nova tinha crises fortes de asma de madrugada. Eu tinha ajuda 6h na semana, e uma rotina pesada durante a noite sozinha, porque meu marido deixava as duas na escola mais tarde pela manhã, assim voltava mais tarde para casa também.
Migs, hoje olhando para trás … eu estou há cinco anos na mesma empresa, e valeu MUITO a pena ter “doado” meu salário para a creche. Hoje, as minhas filhas estão com 4 e 7 anos.
Em 2019, finalmente consegui minha carreira de volta. Foi o melhor ano profissional da minha vida. Eu fechei a maior conta da história da empresa (trabalho em vendas de TI) e bati 210% da minha meta. Uhuuu!!!
Recebi essa notícia em mais um dia de caos da minha vida. Eu estava home office. Elas não tiveram aula. Já tinha visto se estavam com piolhos, sempre importante checar. Enfim, mortinha da silva. Quando eu recebi a ligação, chorei muuuuuito. Pulei muuuuito com minhas filhas também. Foi um dos dias mais felizes das minha vida!!! Pois é, para você felicidade deve significar outra coisa, mas para mim sempre foi minha familia em primeiro lugar e depois minha carreira. Por quê não? Sou mãe mas também estudei e ralei para chegar até aqui. Me passou um filme na cabeça, das 32 entrevistas que fiz para conseguir um emprego na área, e finalmente fechar essa conta. E eu nunca vou esquecer o dia 25 de outubro de 2019. Obrigada!
Migs expatriada, tenho certeza absoluta que você já deve ter ido em alguma entrevista que pagava pouco. Você queria um salário maior, claro. Nós sempre queremos mais, o que eu acho ótimo. Porém não aceitou porque era o mesmo valor para pagar a creche do filho. Eu escutei essa história dazamigas em todos os países que morei.
Também escutei e escuto diariamente que não é possível porque o marido viaja muito a trabalho ou chega tarde. Oi, prazer! Essa é minha vida e de muitas outras também. Meu marido chega tarde todos os dias, e viaja uma a duas semanas por mês. Eu simplesmente faço acontecer. Dou um jeito para dar certo, muitas vezes da muito errado e tudo bem.
O mundo perfeito do Brasil: familia morando perto, dinda que salva, empregada, babá e avós que ajudam. Rá!!! Ficou lá, Migs. Aceita que dói menos.
Aqui, do outro lado do mundo, pode ser um bom momento para tirar do papel aquele projeto de empreender, fazer um curso, enfim de fazer algo por e para você. Realmente, é mesmo surreal ter aquela vida insana do Brasil de trabalho aqui. Não da. O importante é encontrar um balanço. O que funciona para você, e principalmente para sua familia.
Nesse ponto, a Europa está super avançada. As mulheres podem trabalhar duas, três ou quatro vezes na semana – part time. Quando engravidam, isso não quer dizer férias, tá? Eu sai de licença maternidade no Brasil e tinha 12 pessoas na minha equipe. Quando voltei, tinha apenas uma porque eles pensavam que eu estava de férias. Pelo amor!
Crie metinhas, metas e metonas com deadlines. Senão a vida passa, marido fala que vamos mudar de novo, as kids crescem e não precisarão mais tanto de você como agora.
Eu acho que vale a pena trocar seis por meia dúzia, por experiência própria. Simplesmente porque não é uma troca eterna. Somente naquele momento que você está aprendendo sobre o mercado europeu, por exemplo, e se ajustando nessa nova vida.
Vale a pena ter experiência em um mercado internacional. Vale a pena aprender algo novo, como uma lingua. Vale a pena aprender sobre uma nova cultura no trabalho. Vale a pena sair de casa, colocar salto alto, batom e partiu escritório. Vale a pena comer em paz na rua. Vale a pena ir ao banheiro sozinha (sem filhas). Vale a pena conversar nem que seja sobre a poha da chuva da Holanda, mas não sobre fraldas. Vale a pena pegar chuva, neve e passar perrengue chique para ir ao trabalho. Vale a pena ter uma vida sua, depois que você abre mão da sua carreira pela do marido, e muda de país. Vale a pena mesmo se seu sonho nunca foi ser rhycah, mas ganhar dinheiro é muito bom, obrigada.
Eu trabalho três dias da semana em casa e dois dias em Rotterdam. Meu chefe já falou algumas vezes que eu não preciso ir, se não quiser. Mas eu quero! Eu quero me arrumar, pegar o bus e trem, trabalhar e ter a minha vida. Muitas e muitas vezes a minha vontade foi colocada em segundo plano, porque primeiro vem minha familia, além de ter mudado de país várias vezes nos últimos anos.
Fácil é trabalhar fora, Migs.
Difícil é ficar em casa com as kids. Meldels!
Vou descansar no escritório.
Beijocas, Nati.