Querida migs expatriada,
o que eu mais recebo de pergunta no instagram é sobre meu trabalho: como eu consegui, o que eu faço, como se sentir segura, por onde começar, onde eu deixo minhas filhas e etc.
Eu não sou profissional de RH. Sou filha de uma super fodástica de RH e cresci ouvindo sobre carreira, cursos e análises comportamentais. Portanto “a fruta não iria cair longe do pé”. E minha avó já falava que marido não era emprego.
Brasileira acha que é só chegar aqui, na Europa, e pá pum … vai conseguir o emprego para ser Dona do Rolê. Rá! Ei, deixa eu te contar: não, e ainda vai quebrar a cara com isso.
Eu não vou anexar meu CV aqui, mas fiz faculdade, pós-graduação, três especializações, MBA, falo espanhol e inglês, e mesmo assim eu fiz apenassssss 32 entrevistas em Londres, UK. Falei nesse post aqui!
A verdade é que você é um ZÉ NINGUÉM em outro país, infelizmente!
Não importa se você fez MBA na FGV (como eu fiz), estudou nas melhores faculdades e tem um cargo super alto. Aqui, o buraco é mais embaixo. O mercado é diferente. O que vale é a experiência. E não é experiência de ter trabalhado numa empresa gringa no Brasil, mas SIM morar e trabalhar aqui, na Europa.
Hoje eu tenho experiência em EMEA, Benelux e UK&I, mas Migs já estou nesse jogo da vida há mais de quatro anos.
Já falei nesse post aqui – algumas dicas de uma amiga querida sobre como conseguir emprego.
“Setar” as expectativas.
O mais importante é você “setar” as expectativas. Saiba, em primeiro lugar, NÃO vai ser fácil simplesmente porque tem muitos influenciadores fora do seu controle. Por exemplo, eu tenho experiência em MKT e Vendas no mercado de TI. Porém, quando mudei para Londres eu só buscava vaga de mkt, até que um headhunter me disse que em UK somente contratavam inglês nativo (British!) para isso. Quac, quac e quac. E eu passei longos seis meses buscando nessa área para algo que não iria dar certa. Presta atenção, Migs!!!
Claro que se você veio transferida pela empresa é outra história. Nem precisa ler mais nada.
As suas escolhas e dilemas dependem da sua experiência de vida.
Eu passo na cara do meu marido dia sim e dia não que eu abri mão de tudo (carreira, família e amigos) para viver o sonho dele. E aí você deve ter pensado “Miga, sua loka! Tá rhycah na Europa e ainda reclama?”. A vida aqui é bem diferente. Eu não fico passeando de barco fumando maconha pelos canais de Amsterdam. Oi??? E tem mais, eu tive uma vida maravilhosa antes, deixa eu te contar …
Quando mudei, eu já conhecia a Europa (algumas vezes), EUA (várias vezes desde os 11 anos), Canada (intercâmbio) e muitos outros países na época. O mais importante é que já tinha viajado o Brasil todinho com meus pais. Sempre acreditei que viajar é o melhor investimento, sair da zona de conforto e aprender que o diferente é bom também. Todas essas viagens abriram demais minha mente e forma de ver o mundo.
Eu já tinha uma carreira e a discrepância salarial minha e dele era mínima no Brasil. Aqui é enormeeeee, algo como 4 vezes mais, porque eu tive que abrir mão de muitas coisas que eram importantes para mim e consequentemente aceitar isso.
Eu já tinha conquistado muito. Tinha trabalhado no Vale do Silício – sim, sou de TI e lá é o máximo mesmo! Já tinha trabalhado em start ups e gerado excelentes resultados.
Por quê estou contando tudo isso? Por quê sou achany e fodástica? NÃO! Porque, para quem mora no Brasil, morar na Europa é o máximo. Sim, realmente é o máximo, mas eu não descanso uma poha de um minuto. Nem azamigas daqui! Estou passeando plena pelas tulipas, mas com uma pilha de roupas me esperando em casa para lavar. A rede social não mostra a realidade.
Migs, minha amiga Jami, me falou uma vez:
O que eu (como toda expatriada) faço aqui, sozinha, a mesma coisa é feita a oito mãos no Brasil – ajuda dos avós, babá, empregada, marido, madrinha, vizinha, amiga, papagaio e periquito.
Abri mão também do apto de coxinha-com varanda gourmet em Sampa-de classe “merdia” para ser mãe full time e fazer serviços domésticos. Caralho, estudei tanto para isso? Pois é, sim. C’est la vie!
Como expatriada, muitas vezes vem um fogo na “bacurinha”/ no rabo e você quer mais. Quer um emprego!
E aí começa o milagre – sei lá como você quer chamar. Na verdade, fecha o tabuleiro da vida, manda o jogo para a pqp, chora, limpa as lágrimas, passa make e volte ao início sabendo que será UÓ!
Uma lutaaaaaa conseguir emprego. Quando finalmente consegue, agora tem que fazer malabares: limpar a casa, comprar comida, cozinhar, lavar e guardar a louça, lavar e guardar a roupa (não precisa passar), cuidar das filhas, lição de casa e dar atenção para marido também, né? Ir e voltar de transporte público/ bike na chuva ou neve. Descansar no final de semana? Não. Tem que catar os brinquedos do chão e pensar no cardápio da semana. Ah esqueci das unhas, eu mesma faço para economizar e comprar passagens. Massagens, dermato e nutri? Não temos.
Mas já escutei: “Miga, pelo menos você ganha em euros!”. Sim, e gasto em euros também só para lembrar. O salário de uma mulher aqui é mais baixo, porque elas trabalham part time (meio periodo ou quatro vezes na semana – não é meu caso) e também that is the way it is. E não adianta as feministas falarem que não, porque infelizmente é.
E eu vivo um dilema constante …
ainda mais essa semana com uma TPM do caraleoooo. Eu simplesmente não posso dar um passo maior na minha carreira. Tem dias que fico OK e outros que questiono as minhas escolhas, afinal sou geminiana bipolar.
Meu marido volta do trabalho às 21h/22h ou está em outro país. Como posso ter uma super carreira? Não é possível! A conta não fecha. Quem vai ficar com as meninas? Babá full time não é opção para mim. Por outro lado, quando Thiago está em casa, é (sem dúvidas!) o marido que mais faz tudo de todas azamigas em todos países que morei. Cozinha a comida da semana, mercado, festinhas, leva na escola, leva no médico, faz 122mil programas no fds e eu não preciso pedir nada, nadica. Obrigada Paixão, te amamos muito!
Já recusei duas vagas para um salário muito melhor, simplesmente porque não posso (agora) começar do zero e “provar” minha capacidade.
Já recusei promoção. Meu chefe me pede para viajar e quase sempre eu falo que não posso porque Thiago está viajando. A minha “sorte” é que trabalho para a mesma empresa há anos e fui transferida de Londres para Rotterdam. Eles sabem da minha situação, mas o mais importante é que meus resultados são bons, no final isso que importa para a empresa.
Eu trabalho três vezes por semana home office e busco minhas filhas às 15h30 na escola. Duas vezes por semana eu trabalho em Rotterdam. A Thais, minha salvadora da pátria, busca as meninas na escola e fica com elas até às 19h. Tento marcar meus calls todos no período da manhã, mas várias vezes não consigo e as meninas sempre aparecem no meio do video. Me pedem para tirar e colocar a roupa na Barbie/ LOL. E eu? Continuo falando da minha meta de GBP 3,6M do ano. Já chorei e me irritei mas não posso e nem quero pagar 10 euros por hora de babá todos os dias da semana.
Por outro lado, eu quero mais, sempre mais. Também tenho que agradecer por ter um emprego na minha área com bom salário. Migs, eu não sei viver na zona de conforto (que de rotina e conforto aqui é zero). Quero ser rhycah (e não tenho vergonha de falar isso!) para viajar o mundo e ajudar quem precisa.
Migs, esses são meus dilemas, desabafos e pensamentos. Ufa!!! Ficam mais intensos quando o sol não sai, praticamente 10 meses do ano. Tenho plena consciência que é um pouco de white people problems junto com força guerreira, porque todo mundo tem saúde aqui então está tudo ótimo, né?
Para você, do outro lado do mundo parece tudo tão simples, porque tem ajuda, tem o QI (quem indica) na empresa, o nome da sua faculdade é reconhecido … mas para nós, expatriadas, não. E assim, seguimos o baile … beijocas e fui! Porque agora tenho que fazer o jantar das kids, lavar a louca, dar banho, ler 122mil livros para cada, fazer lição com uma e colocá-las para dormir.