Querida amiga-mãe-expatriada,
azamigas me perguntam quando tenho tempo para escrever meus posts … no trem. Passo 2h30 por dia no trem (quarta e quinta) indo e vindo do trabalho. Escrevi esse post e fiquei um bom tempo pensando no título. Migs, você pode ser mãe expatriada, mas não terá uma carreira promissora internacional. Você pode ter uma carreira e ser mãe, mas com certeza não será uma mãe expatriada (deve estar morando no Brasil, agora). Uma amiga expatriada (a Pri da Alemanha) postou essa semana – a vida é feita de escolhas, e o mais difícil é não escolher!
Mãe expatriada X Carreira internacional
Realmente todo sonho de uma mãe é ter um trabalho bem remunerado e tempo para os filhos. Este também sempre foi o meu sonho.
Já trabalhei em casa (como mãe – sim, isso é um trabalho árduo e não remunerado), em Santiago e Madrid. Já trabalhei fora em São Paulo, Londres e Amsterdam. Óbvio que é muito, mas MUITO mais fácil trabalhar fora. A fase mais difícil da minha vida foi na licença maternidade da Vic, em Londres. Meu marido viajava quase toda semana para 122mil países. Eu ficava sozinha (sem família, sem empregada e sem babá) com as duas filhas e tinha somente 3horas por semana de cleaner.
Migs, para você, que está no Brasil, agradeça de joelhos essa vida de ter família, empregada, babá e/ou diarista por perto. Tenho amigas que tem uma dessas opções e outras que tem todas essas opções. Sem MIMIMI, porque é uma grande e bela ajuda. As mães expatriadas não tem nenhuma dessas opções, a realidade por aqui é fodástica fora das redes sociais.
Cada uma sabe o que é melhor para sua vida. Eu, realmente, não consigo ficar sem trabalhar fora. Sou filha de uma super-mega-ultra-power mãe de RH, mega empoderada, viajava muito a trabalho, sempre foi bem sucedida e se virava/ ainda vira nos 30 e 122mil para fazer acontecer. Maieeee, aqui vai meu eterno obrigada, sem traumas de filha única.
Se para você, não trabalhar fora de casa está tudo bem, aqui vai meu SALVE! Você é muito evoluída. Eu ainda não cheguei nesse ponto. Por favor, me ensina, sério.
Já falei nesse post AQUI sobre a minha saga para conseguir um emprego na minha área, na Europa. Não foi fácil e nem é fácil. Aqui vai minha trajetória …
Santiago
No Chile, eu consegui trabalho depois de NOVE meses buscando. Aí mudamos para Londres …
Londres
Eu trabalhei para a mesma empresa durante dois anos, em Londres (7h30 – 16h30. Sim, eles permitiam horário flexível para as mães). Meu marido deixava as meninas na escola, e eu buscava. Quando ele viajava, a Misa/ Lipa (minhas salvadoras da pátria!) chegavam as 6h da manhã em casa para eu poder sair. Eu morava em West London e trabalhava na City, ficava 2h30 no transporte público por dia – aproveitava para ler livros (um/ dois por semana). Na volta, eu literalmente saia correndo para buscá-las na escola, pois custava 5 POUNDS o minuto de atraso – isso mesmo! Pegavas as duas, dava o jantar, banho e cama as 19h … sim, Migs, minhas filhas sempre dormiram super cedo porque eu tenho que ter uma vida que não se resuma a serviços domésticos e filhas. Quase todas as noites, a Vic acordava com crises de asma ou eczema. E eu? Bom, eu estava em pé maquiada e arrumada as 5h30 da matina pronta para um novo dia! Se esses dois anos foram fáceis? Não, jamais, mas eu faria TUDO de novo simplesmente pelo enorme aprendizado e crescimento.
Madrid
Mudamos para Madrid e não trabalhei porque meu NIE (RG local) não saiu durante os seis meses que moramos lá.
Amsterdam/ Rotterdam
Quando mudamos para a Holanda, passei um mês e meio organizando a vida (rotina e adaptação da escola das meninas) e voltei a fazer algo por mim: trabalhar fora! Migs, depois que a gente vira mãe, ainda mais em outro país, fica cada vez mais difícil fazermos algo que gostamos, sabe?
Eu trabalho para o mercado de TI – tecnologia da informação. Esse mercado é bem aquecido por aqui. Não procurei emprego, mas fiz duas entrevistas para outras empresas que me acharam pelo LinkedIn. Recebi uma proposta de trabalho ótima.
A empresa que eu trabalhava em Londres tem nove escritórios no mundo, e para a minha sorte/ destino tem também em Rotterdam, na Holanda. Em outubro de 2017 recebi uma offer letter, novamente. Por isso, Migs, é muito importante não sair brigada de nenhuma empresa. Quer dar piti? Se tranca no banheiro, grita e siga o baile com educação britânica 😉
Mude o mindset e seja feliz.
Nao sei como traduzir em português – mindset. Migs, se você é uma mãe-expatriada tem que mudar o mindset ou não será feliz nunca. Nunca terá uma vida leve, essa é a verdade. Happy wife. Happy family!
Demorou MUITO para eu entender que: quem tem uma carreira é o meu marido. Atualmente, eu não tenho mais uma a carreira promissora, tenho um emprego que eu amo (carreira internacional) e sou feliz assim. Simples assim!
Se você acha que eu não sou feminista-empoderada-queimadora de sutiã? Não, Migs, muito pelo contrário. Eu já tive um carreira promissora, já fui bem sucedida e viajava a trabalho para o Vale do Silício (maior centro de tecnologia da informação no mundo, na California), Miami e vários estados do Brasil. Fiz uma faculdade, uma pós-graduação, três especializações e um MBA. Sempre fui focada em carreira, mas a vida é feita de escolhas, e hoje, essa não é mais minha escolha. Não se pode ter tudo nessa vida, já dizia minha mãe.
Em janeiro deste ano, minha chefe conversou sobre uma promoção e eu disse NÃO. Um não que doeu em mim por dias e dói até hoje. Chorei muito. Fiquei quieta e pensativa por longos dias.
Se eu morasse no Brasil, claro que eu teria uma carreira promissora, e poderia ter dito SIM para minha chefe. Minha mãe, meu sogro e/ou cunhada poderiam me ajudar com as meninas. Eu não teria que fazer TODOS os serviços domésticos (até minhas mãos e pés eu faço). Minha vida seria MUITO diferente.
Morando fora do Brasil é IMPOSSÍVEL ter uma carreira fodástica. Simplesmente, porque tenho um marido que viaja quase todas as semanas para outro país, não tenho família para ajudar, tenho a Thais (que mega me ajuda!) algumas horas na semana e tenho duas filhas que são meu bem mais precioso. Se eu aceitasse ser promovida, teria que viajar toda semana para algum país e quem criaria minhas filhas? Hoje, finalmente, eu tenho um balanço. Um emprego que amo na minha área, ótimo salário e o melhor de tudo: flexibilidade em estar mais tempo com minhas filhas e marido. Isso não tem dinheiro no mundo que pague.
Se eu queria de volta a minha carreira promissora? Óbvio que já quis por muitas vezes, mas confesso que as oportunidades que minhas filhas tem morando fora do Brasil são impagáveis. Portanto, HOJE não tenho. Porém, como sigo na minha área e com experiência internacional … quem sabe amanhã, quando elas tiverem maiores, certo?
Essa não é uma realidade somente minha. Tenho MUITAS amigas pelo mundo afora (aliás, Migs, se você vai se mudar ou mora em algum país que já morei, me manda mensagem que eu te apresento azamigas) e sempre conversamos sobre isso. Posso contar nos dedos, de uma mão, as minhas amigas mães expatriadas que trabalham fora de casa.
Migs, claro que se você mora fora do Brasil, seu marido volta do trabalho cedo a noite e pode lhe ajudar com as crianças, ainda tem certeza que não vai ficar pingando de país em país … é possível, sim! Mas, não é meu caso.
Meu marido me apoia MUITO no trabalho. Por exemplo, quando ele pode, vai buscar as meninas, fica em casa para eu ir para uma reunião importante. Já fui a Londres duas vezes, a trabalho esse ano, e ele saiu mais cedo e se virou (assim como eu me viro). Não é que ele somente leva as meninas na escola, mas faz as lancheiras, trancas e laços nos cabelos … um homão da poha! Agora, ele está na Copa do Mundo com os amigos. Ele merece! 😉
Rotina
Sobre a nossa rotina, na Holanda.
As meninas estudam das 8h30-15h30. Eu moro em frente a escola – sim, é maravilhoso! Levo e busco as meninas na segunda, terça e sexta. Na quarta e quinta, meu marido leva e a Thais (baba querida) busca. Eu trabalho na segunda, terça e sexta até as 15h30. Fico com elas durante a tarde (playdate e atividades), e quando dormem (19h30) trabalho mais um pouco. Na quarta e quinta-feira eu trabalho em Rotterdam. Compro meu almoço no mercado da estação de trem e não saio da mesa. Nesses dois dias, eu trabalho MUITO para nos outros dias conseguir fazer playdate, passear e tomar sorvete com as meninas em um dia raro de sol.
Muitas vezes preciso atender um telefonema ou fazer um call no meio da tarde. Tudo é via video conferência. A empresa toda, praticamente, conhece as minhas filhas porque basta eu colocar o fone de ouvido e falar em inglês que as duas voam para a tela do computador para dar tchau e mandar beijo. Mico total! Óbvio que no começo, eu suava sem parar, ficava desesperada, atordoada e até não me achava uma boa profissional. Hoje? Bom, hoje eu mostro as duas, falo para mandarem beijo e sigo no call. Vou fazer o quê? Estou muito acima da minha meta (Q1 e Q2), e no final o que importa, para a empresa, é o resultado.
Contratempos? Milhares. Sem contar as vezes que ficam doentes, trezentos breaks/ feriados no ano, as novecentas atividades escolares, as quatrocentas viagens do marido, e para me enterrar de vez, agora … NOVE SEMANAS DE FÉRIAS!!!!
Migs, eu passo maquiagem, um batonzão vermelho, coloco um colar tcharan e sigo o baile … pelo menos, faço de conta que sou plena nessa vida zero glamour de mãe expatriada que trabalha fora 🙂