Querida amiga expatriada,
estamos quase na metade do ano (o ano é 2022).
Para quem mora no Brasil, vou explicar esse rolê! Normalmente, nessa época do ano é quando as pessoas são transferidas para outros países, porque é o final do ano escolar também. Depois dos 4 anos, quando a criança é obrigada a ir para a escola (eu ouvi um amém?), ninguém quer fazer mudança em pleno mês de janeiro, no frio do caceta e duas semanas de férias. Vira um auê nas cidades, por conta das casas também – entregar para quem vai e alugar/ comprar uma nova para quem vem. Nem vou entrar no quesito vaga de escola, apenas desejo sorte – você vai precisar!
Na minha vida, vira um chororô danado! Não adianta. Nunca vou me acostumar com essas despedidas. Never ever evahhhhhh!
Ano que vem vai fazer 10 anos que saí do Brasil. Já fui a que despedia por cinco vezes, e a que fica chorando por 122mil vezes.
Como rolou a pandemia, acho que as empresas deram uma “vou deixar você ficar mais tempo, aproveita mulé!”, porém, nessa metade do ano está indo todo mundo de uma vez. Não só aqui, em Amsterdam, mas vários países. Sei porque tenho amigas pelo mundo afora passando por isso.
Kids Expatriadas. O nome certo é Third Culture Kids – joga no google aí, porque preciso tirar roupa da máquina sem tempo de explicar.
Agora, que minhas filhas cresceram, eu vejo elas chorando por uma amiguinha e choro MUITO! Fico triste. Arrasada. Não consigo ver minhas filhas chorarem e não desabar junto. Sofro mais do que a Thalia- Maria do Bairro- da novela mexicana.
No fundo, sei que por uma escolha nossa (minha e do Thiago) elas estão nessa situação. Pior ainda é que não tem fone celular/ grupo de zap, então o contato vai de vários playdates para nada em um milésimo de segundo. Tão pequenas e convivendo com essa dor.
Eu tenho amigas de infância. Ai penso se elas vão conseguir manter essa amizade, será? Também tem todo esse lance de pertencimento. By the way, só se fala nisso – nome lindo, né? Porém, as psicólogas vão me cancelar. Bora parar com esse rolê? Isso mexe demais na nossa vida expatriada de 122 mil países e nunca sabemos qual será o último. Enfim, por enquanto, eu crio minhas filhas para pertencerem ao mundo, que é muito pequeno para ficarmos no mesmo lugar.
As escolas são especialistas em aumentar meu chororô. Estão de parabéns! Tenho pasta, cartões, livros com fotos e muitas lembranças de todas as escolas que já foram. Para terem uma ideia, a Valentina, minha filha mais velha, já foi para seis escolas com 9 anos. Já posso imaginar sua cara de chocada. Tá tudo bem para ela, juro! Já para euzinha, a mãe manteiga derretida, nada bem. As vezes, vejo um cartão com as mãozinhas das kids no Chile, com 1 aninho, e borro todo o rímel, claro.
Quantas vezes vou escrever a palavra chorar nesse blog? La garantia soy yo.
Chegadas e Partidas da Expatriada
Quem não tem preguiça de começar tuuuudo de novo? Vou falar que é fodástico. Você muda, faz novas amigas – o que é bem difícil fazer novas amigas já véia – tem que mudar e começar do zero de novo. Da uma puuuta preguiça. É um saco. Chegar. Sorrir. Se esforçar. Buscar afinidades. Principalmente, antes do inverno chegar – porque é quando todo mundo se tranca e você precisa se trancar com alguém, além da sua familia (recomendo!).
Fico imaginando como uma pessoa tímida deve sofrer, no caso, meu marido é tímido mas a sorte dele (além de ser casado comigo, óbvio!) é que eu apresento todos os amigos nos países que moramos para ele. Tá me devendo para eternidade, hein Thiago? (aceito pagamento em bolsa cara. Obrigada. De nada.)
Para algumas, ainda tem a barreira da lingua. Enfim, 122mil empecilhos.
Se os seus filhos são pequenos e estão na escola, rola fazer playdate e ficar amiga da mãe. Porém, se já são adoles. Ai amiga, que boxxxxta, hein? Aqui só jogo a real. Quando mudei para Londres, eu ia nas aulinhas gratuitas do bairro para fazer amiga, parquinhos e, na época, conheci minha BFF Paulinha no Facebook. Fui lá e postei no grupo, com a cara e coragem, onde eu morava e se tinha alguém perto com filho pequeno. Deu mais do que certo!
Uma vez conheci uma amiga muito, mas muito legal em Madrid. Mesma escola da minha filha menor. Filhos da mesma idade. Tínhamos muitas afinidades. Ela disse que não iria se apegar ou ser minha amiga, porque sabia que eu iria partir logo. Dito e feito. Fiquei somente 6 meses lá, porém na época pensei que ela era doida. Imaginaaaaaaa! Hoje? Rá. Rá. Rá. Sambando aqui no cuspe que caiu na minha cara. Entendo muito e respeito.
Eu me entrego sempre. Não sei quanto tempo vou ficar por aqui, mas aproveito como se fosse o último dia, todos os dias. AMO minhas amigas, e elas sabem quem são!
Já me ferrei, claro, com algumas, mas aprendi que tudo é uma questão de afinidade. Quando conheço alguém, penso se seria amiga dessa pessoa no Brasil. Se sim, então bora junto nesse rolê expatriada! Senão, tchau, fia. O tempo é o que temos de mais precioso, não vale a pena desperdiçar com alguém que está cagando para você.
A amiga expatriada é a nossa família aqui. Quando da merda, é para ela quem ligamos e contamos mais do que a própria familia (muitas vezes!). Quando da match, é bom demais. Agora, quando da match dos pais e as kids também, aí é outro patamar. Para sempre, sabe?
E a amiga expatriada está no mesmo rolê every single f … day! Sabe o que é tomar chuva na cara todo santo dia, catar piolhos, vento que entra no útero and ver um ratinho passando e fingir normalidade (peraí, acho que nunca, né?). Enfim, as alegrias e perrengues são os mesmos! Por isso a intensidade cresce em poucos meses.
O pior de tudo, na despedida, é o timing.
Sempre sabemos poucos meses antes da mudança- na minha vida, 1 mês antes de partir. Tudo se torna ainda mais intenso e na corrida contra o tempo.
Amiga expatriada, essa é para você, é muito importante fechar ciclos. Chora. Se joga na cama igual o xóven. Gasta todos os lencinhos mesmo. Borra toda make. Se você se privar da despedida agora, lá na frente vai chorar mais ainda. Fica aquela ferida aberta. Muitas não puderam fechar esse ciclo no meio da pandemia, porque não podíamos nos ver. Sinto muito por isso.
Fica que vai ter bolo!
Eu queria mesmo é falar para todas que passaram pela minha vida: fica que vai ter bolo! Mas a vida expatriada é assim. Tem muitas coisas boas. Muitas outras coisas que pqp! A despedida é uma delas. Dói para quem vai. Dói para quem fica. A dor perdura, mas quando se tem amor, a distância supera. A amiga fica, mas fica do lado de dentro do coração. Sempre. As minhas são assim. Eu amo vocês muito e contem sempre comigo! Anytime. Anywhere. Mi Casa. Su Casa.
Se você está passando por isso agora, sinta-se abraçada. Viva esse luto. Temos que fechar ciclos.
Se você está chegando em um país novo, leia esse post aqui. Espero que encontre a sua MY ONE PERSON.
* Essa foto linda é de uma loja na Turquia, que eu fui com uma amiga, chamada Pitane.