Querida amiga expatriada,
senta que lá vem papo cabeça …
Tudo começou no meu grupo de whatsapp das minhas amigas de Londres. Aliás, saudades meninas!!! ❤️
A Teressa jogou a questão do brinco na orelha em bebezucas e surgiram 122mil comentários. Migs, se você está lendo esse post do Brasil deve achar mais do que normal furar a orelha da bebezinha, mas na verdade há controversias. Bem-vinda ao mundo por aqui! Não vou discutir o que é certo ou errado. Até porque não existe certo e errado. Alguns falam que é um ato “bárbaro”. Outros falam que somente pessoas sem educação fazem. Alguns falam que o bebê/ mulher deve decidir o que fazer com o corpo. O fato é que, em Londres, é proibido meninas de brincos, nas escolas, a partir de quatro anos.
Sobre esse lance, eu furei a orelha da Valentina no Einstein em Sampa, quando ela nasceu. Isso mesmo, bemmmmmm como manda o “figurino”. Porém, atualmente, NENHUMA amiga dela, de diferentes nacionalidades, usa brinco então ela quis tirar já tem um ano e meio. Deixei, claro! Também furei a da Vic bebezuca e ela nem chorou. Por enquanto, está de brinco mas se quiser tirar … OK também.
Migs, isso é CULTURAL!!!
Assim como é cultural, na Inglaterra, não cuidar dos dentes. Porque antigamente só quem tinha dinheiro para comprar açucar/ doces eram pessoas ricas. Então dente cariado/ podre era sinônimo de status. BUT convenhamos, né? Uó do borogodó!!!! Eu tenho uma colega de trabalho que tem Chanel e Louboutin mas nãooooo tem um dente. Bom, eu não tenho nada disso, mas tenho os meus dentes, porque essa é a minha cultura e levo isso como prioridade.
Papo vai e papo vem. Até que a Paulinha, minha BFF de Londres, falou:
A gente leva a vida TRYING TO FIT IN!!! No final, a gente nem se reconhece mais.
Boom!!!! Todo mundo concordou e acordou.
E eu pensei, por horassssss, quantas coisas que fazia, fiz e faço somente por TRYING TO FIT IN. Para quê, Migs?
Em Londres, no começo, eu me esforçava muitoooo para ter sotaque britânico. Para quê? Hoje falo inglês superrrrr brazuca (alguns erros) e com orgulho, afinal não sou british, só minha filha Vic. ☺️
Em Madrid, assim que chegamos, convidaram a Valentina para uma festinha de uma amiguinha da escola em um parquinho indoor. Era segunda às 16h30, ou seja, após a escola. Eu fui normal ué! Bota sem salto, calça jeans, “brusinha” da Zara e casaco Uniqlo. Migsssss do Céu, quando cheguei lá, as mães estavam de bota de salto, superrrrr maquiadas, casaco de pele, vestido-longo-esvoaçante-estampa Liberty, bolsa Chanel e cabelo com cachos a la Gisele. Capa da revista HOLA em plena segundona a tarde no frio! Eu também levei a Vic, porque não tinha ajuda, mas Madrid todooooo mundo tem interna – que mora com você de domingo a sábado.
Depois desse episódio, o que eu fiz? TRYING TO FIT IN, claro. Depois de uma temporada no Chile e em Londres, eu somente mega me arrumava para trabalhar. E ainda deixava meus saltos no trabalho, claro. Então fiz umas compritchas e mega me arrumava nas festinhas, para buscar as meninas na escola e tudo mais. Para quê??? Depois de um tempo desencanei, porque aquela não era eu, e consequentemente acabei fazendo amizade com expatriadas e somente duas espanholas.
Na Holanda, meu lance de TRYING TO FIT IN é com a bike 🚲. Migs, uma cena cotidiana aqui é uma super mãe-deusa-holandesa pedalar carregando compras, três filhos e mais um amiguinho para playdate. Cabelo liso, falando no celular e plenaaaaa! E eu? Rá! Comprei uma bike com cesta na frente e cadeirinha atrás. Pesada para kct para começo de conversa. Enfim, quando eu pedalo na chuva tenho vontade de matar um! A chuva vai na cara borrando a make. Fecho a capa de chuva no máximo para não molhar minha bolsa cara-desejo-que trabalhei para poha para pagar- e tem que durar gerações (sim, me julguem!). Meu cabelo, depois de pedalar, parece de velha que passa spray Karina. Cheio de nó! Já cai da bike e minha cesta estava cheia de compra do mercado. Migs, fala sério, né? Eu, com 37 anos lá caída e olhando para ver se alguém estava rindo do mico. O mico maior é sair catando yogurt, manteiga e pão pelo chão. Uóóó!!! Em Amsterdam, os turistas alugam a bike e saem batendo em todo mundo. Piores do que eu. Semana passada, meu pneu estava murcho e pedalei até o posto com a Vic na garupa, pior do que cross fit, adivinha? Chegando lá não tinha bomba para encher pneu de bike, somente de carro. Voltei mor-ren-do e xingando todas as gerações, e claro, meu marido também que tenta me enfiar nessa a qualquer custo. Valeu, paixão! Já saí para jantar, sem filhas, plena e de bota. O pedal ralou toda minha bota nova, e minha bolsa Gucci (mais uma vez) pulando na minha cestinha para cá e para lá. Um dia inventei de ir a missa de bike. Parecia que eu tinha ído para a missa em Jerusalém, de tão longe. Deus que me perdoe, mas ELE estava vendo meu esforço. Não foi em vão. Amém! E na volta choveu, claro. Outra vez, meu marido estava na pista de bike (de bike, claro) e foi atropelado por uma scooter e quebrou o ombro. Para tudo!
Migs, para que tudo isso? Se você é expatriada, com certeza já passou por diversas situações assim e muito piores.
A gente tenta “se encaixar”; fazer parte da cultura local de qualquer forma a qualquer custo.
Quando comecei a trabalhar em Londres, logo de cara percebi como tudo era diferente. Ninguém conversava. Imagina minha dificuldade? Sou geminiana faladeira. Eu ía ao banheiro só para falar, falar e falar no celular. Mas desde sempre fui EU! E meu apelido virou Sunshine em todos as BUs. Porque realmente eu sou diferente deles. Sou brasileira, pô! Nem melhor. Nem pior. Apenas diferente e OK ser assim.
Mudar faz bem. Mudar é necessário. Mas lembre-se sempre … até onde permitimos mudar? O que não mudaremos nunca?
No Brasil, eu vejo azamigas sendo fit. Postam receitinhas fit. Pratos lindos e saudáveis. Cross fit para cá e para lá. Outifits modernosos. Cropped. E eu? Migs, óbvio que eu amaria ser super fit e fazer pratos mega-power-super fit para minhas filhotas … BUT eu não tenho empregada para cozinhar, vovó perto para ficar com elas enquanto vou ao mercado, nem feira existe aqui e muito menos alguém para ficar com elas enquanto eu malho. Meu marido volta às 22h ou está em outro país. O que eu faço? Desencano de TRYING TO FIT IT e malho (duas vezes na semana super cedo) para comer e ser feliz, não para usar cropped. Comida não é remédio. Eu AMO comer e tenho prazer nisso.
Pior … tem pessoas que fazem isso em relacionamento. Seja com namorado, marido ou tico tico no fubá. Mudam o estilo de se vestir. Mudam as amizades. Mudam os lugares que frequentam. Até esquecem da própria família.
Outras pessoas gastam os tubos para parecerem rhycah-phynah-plena igual as blogueiranys do Insta. Parcelam até a alma. Alugam até bolsas caras somente para um findi. Tem a mesma sobrancelha desenhada de fio a fio.
Agora, para e pensa … quantas coisas você já mudou somente para TRYING TO FIT IN? Muitas, com certeza.
Migs, seja você! ❤️
Tenha cuidado para não perder sua essência. Não deixe de ser você somente para agradar aos outros.Uma hora a danada da “conta” vai chegar, e será muito cara. Virá em forma de frustração, depressão, tristeza, angústia e um belo impacto financeiro também.